ANTIPOESIA

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domingo, 17 de janeiro de 2021

FLORES DE BUDA III

 

 

A Sidarta Gautama

 

 

***

 

   como um elefante

      no campo de batalha

         resiste às flechas

 

            deves

               suportar com paciência

                  as palavras maldosas

                     que te são dirigidas

 

há muitas pessoas

a quem falta a virtude

e o mundo está repleto de homens vis

 

 

          um elefante treinado

          é dócil

          e ajoelha-se

          para que o rei o monte

 

grande docilidade tem o homem

que suporta injúrias

e calúnias pacificamente

 

excelentes são as mulas

                                  bem treinadas

 

excelentes os cavalos de guerra

                                  bem adestrados

 

magníficos os elefantes

                                  bem domados

 

grande é o homem

que a si se ensina

e se disciplina

 

no entanto

               não é usando as montadas

               que alguém atinge o nirvana

 

o nirvana atinge-se

com autodomínio

e com a mente disciplinada

 

***

 

quando um homem

                            é indolente e lambão

 

dormindo em qualquer lugar

                            onde se deita

 

assemelha-se ao velho elefante

a quem se dá de comer

por compaixão

 

               estará sempre sujeito

               ao círculo dos renascimentos

 

 

      anteriormente

      esta mente vagueou

      como quis

      até onde bem desejou

      e de acordo

      com o seu prazer

 

            agora

            está naturalmente aperfeiçoada

            com a verdadeira sabedoria

            como o tratador de elefante

            o controla com o seu aguilhão

            na época do cio

 

***

 

                   vigia-te a ti mesmo

                   delicia-te na diligência

 

          guarda os teus pensamentos do erro

 

      sai para fora deste lodaçal do mal

      tal como um elefante sai da lama

 

***

 

   se como companhia

      encontras

         um amigo sábio e prudente

            levando uma vida de bondade

               deves

                  superando todos os impedimentos

                     manter essa companhia

                        com alegria e discernimento

 

se como companhia não encontras

   um amigo sábio e prudente

      que leva uma vida de bondade

         então

            como um rei

              que deixa para trás

                 um reino conquistado

                    ou como um elefante

                       solitário na floresta

                          segue o teu caminho

                              sozinho

 

melhor é viver sozinho

do que na companhia

dos insensatos

 

         vive

         e

         caminha sozinho

 

         não faças mal

         a nenhum ser

 

         sê despreocupado

         calmo

         e livre

como um elefante na floresta

 

 

é bom ter amigos

quando a infelicidade

nos bate à porta

 

bom

      é estar contente

      com o que se tem

 

bom

      é ter mérito

      quando a vida

      chega ao fim

      afrontando a morte

      com um espírito sereno

 

bom

      é quando nos libertamos

      de todo o sofrimento

      seguindo

      o caminho da libertação

 

neste mundo

                  bom é servir a mãe

                  bom é servir o pai

                  bom é servir os monges

                  bom é servir os homens santos

 

que felicidade

quando a nossa conduta

é sempre correcta

 

bom

      é ter virtude até ao final da vida

 

bom

      é ter uma fé que se mantém firme

 

bom

      é adquirir sabedoria

 

o melhor é evitar todo o mal

 

***

 

a avidez

de uma criatura

que vive descuidada

                            cresce como uma trepadeira

                            como macaco

                            que procura frutas na floresta

 

quem quer que se deixe derrotar

por esta avidez ou anseio miserável e viscoso

verá a suas tristeza

crescer como joio

depois das chuvas

 

   mas o que vencer

      esta avidez

         tão difícil de vencer

            verá que os seus sofrimentos

               não são mais do que o peso

                   de uma gota de orvalho

                        na folha de lótus

 

por isso vos digo

                         arrancai de vós

                         a raiz da avidez

                         como o jardineiro

                         arranca as ervas daninhas

 

só assim

a morte

não vos levará com ela

 

 

como uma árvore

                         que apesar de abatida

                         se as raízes se mantiverem

                         intactas e firmes

                         germina de novo

assim o sofrimento

                         surgirá sempre

                         enquanto as raízes da avidez

                         permanecerem na mente

 

 

          o homem enganado

            no qual as correntes da paixão

               ainda correm vigorosamente

                  em direcção aos objectos aprazíveis

                     é varrido pela torrente

                        dos seus pensamentos apaixonados

 

torrentes

que fluem por todo o lado

e tudo arrastam

 

      o tojo alastra

                         por todos os lados

 

se vires o tojo

crescer

arranca-o pela raiz

 

***

 

      abandonando-se ao rio grande dos desejos

      os homens buscam satisfazer as suas paixões

 

ansiando pelos prazeres mundanos

nascem e morrem continuamente

 

 

atormentados pelo anseio

os homens correm como

a lebre prisioneira

 

     presos por bloqueios mentais

     regressam ao sofrimento

         uma e outra vez

     por longo período de tempo

 

atormentadas pelo desejo

as pessoas correm como

uma lebre perseguida

 

 

aquele que anseia

pela libertação das paixões

deve aniquilar o seu próprio desejo

 

 

há quem se afaste dos desejos

adoptando a vida da floresta

na busca do nirvana

 

      mas depois de sair

      dos hábitos mundanos

      corre de volta para eles

 

            observai esse homem

            apesar de livre

            retorna à escravidão

 

***

 

   os sábios dizem

   que correntes

                      de ferro

                      madeira

                      ou corda

   não são fortes

 

mas da paixão

e do desejo intenso

                           por jóias

                           ornamentos

                           luxos

                           mulheres

dizem que

                 é uma corrente

                 bem mais forte

e que apesar

de aparentemente solta

é a mais difícil de romper

 

os sábios

cortam-na

sem desejo e saudade

 

abandonando o prazer sensual

                                          renunciam ao mundo

 

os homens presos pela avidez

vivem na corrente das paixões

tal como a aranha na sua teia

 

          esta teia

          também os sábios rompem

          escapando livres

          de qualquer desejo

          e sofrimento

 

***

 

deixa o passado

 

deixa o futuro

 

deixa o presente

 

passa para a margem

                              mais distante da existência

 

com a mente plenamente livre

não regressarás jamais

ao círculo dos nascimentos e das mortes

 

***

 

para uma criatura

      atormentada por maus pensamentos

            que é dominada pela paixão

                  e dada à busca do prazer

                        a avidez cresce constantemente

 

cria uma forte prisão

 

 

a criatura

que com alegria

subjuga os maus pensamentos

 

                que se mantém serena e em paz

                que medita sobre o sofrimento

                que está sempre consciente

 

        porá um fim à avidez

        e saberá desfazer

        todas as urdiduras da morte

 

o que pleno

de sabedoria

se mantém

sereno

em paz

que é destemido

livre de avidez

ou anseio

livre da paixão

e arrancou

os espinhos da existência

este é o seu último corpo

 

          o que está livre

          do desejo e apego

          livre de todas as manchas

          que se aperfeiçoou em descobrir

          o verdadeiro significado do ensinamento

vive na verdade pela última vez

e todos o terão como sábio

 

***

 

          eu sou o vencedor supremo

          o conhecedor supremo

 

liberto de tudo

da própria ilusão da vida

de mim próprio tudo aprendi

 

          quem poderá então ter sido o meu mestre

 

***

 

o dom da verdade supera todos os dons

o sabor da verdade supera todos os sabores

a alegria da verdade todas as verdades

 

quem se libertou da avidez

ou do anseio

vence todo o sofrimento

 

 

        as riquezas

        arruínam

        os insensatos

 

não os que buscam a libertação

 

por almejar riquezas

o imbecil arruína-se tanto a si

como aos outros

 

 

as ervas daninhas

                         são a ruína dos campos

 

a cobiça e a luxúria

                         são a ruína da humanidade

 

      tudo quanto é oferecido

      aos que são livres de cobiça e luxúria

      produz frutos abundantes

 

as ervas daninhas

                         são a ruína dos campos

 

o ódio

                         é a ruína da humanidade

 

        tudo quanto é oferecido

        aos que estão livres de ódio

        produz frutos abundantes

 

as ervas daninhas

                         são a ruína dos campos

 

a ilusão

                         é a ruína da humanidade

 

        tudo quanto é oferecido

        aos que estão livres de ilusão

        produz frutos abundantes

 

as ervas daninhas

                         são a ruína dos campos

 

o desejo e a avidez

                         são a ruína da humanidade

 

        tudo quanto é oferecido

        aos que estão livres de desejo e avidez

        produz frutos abundantes

 

***

 

      bom

            é o domínio da visão

      bom

            é o domínio da audição

      bom

            é o domínio do olfacto

      bom

            é o domínio do paladar

 

      bom

            é que se esteja sempre atento

 

         bom

                é ter domínio do corpo

         bom

                é o domínio da fala

         bom

                é estar atento às sensações

         bom

                é estar atento às nossas palavras

         bom

                é o domínio do pensamento

         bom

                é que se esteja atento à mente

 

o monge que está sempre atento

alcançará a bem-aventurança

pelo fim do sofrimento

 

 

aquele que tem o controlo

 

sobre as suas mãos e pés

 

das suas próprias palavras

 

que está totalmente controlado

 

sempre em paz

 

solitário e feliz

 

com a sua própria condição

 

esse é o verdadeiro monge

 

 

o monge que tem controlo

                                     sobre a sua língua

que é regrado

                   no discurso simples

que com humildade

                            expõe o ensinamento da verdade

                            tanto na letra

                            como em espírito

 

é ouvido

com agrado pelos homens

 

 

   o monge

                que permanece na doutrina

                que se delicia na doutrina

                que nela medita

                que a tem sempre presente na sua mente

 

é fiel ao caminho da verdade

 

***

 

   não se devem desprezar

   as esmolas recebidas

   nem invejar as dos outros

 

      o monge que inveja

      o proveito dos outros

      nunca alcançará

      a suprema concentração

 

o monge que não despreza

o que recebeu

mesmo que pouco seja

é louvado pelos deuses

pela sua constância e pureza

 

 

      o que não tem qualquer

                                       apego de mente e corpo

 

      para quem não existem

                                       as noções de eu e do meu

                                            nesta vida efémera

 

      que não se lamenta

                                       por aquilo que não tem

 

é verdadeiramente um monge exemplar

 

 

o monge

             que permanece no amor integral

             que é profundamente devotado

             ao ensinamento do buda

 

alcança a paz do nirvana

 

***

 

          despeja este pesado

          barco da vida

          da água que o inundou

                   ó monge

 

vazio navegarás com leveza

livre da paixão da carnalidade e do ódio

alcançarás o nirvana

 

 

decepa e liberta-te completamente

das correntes da ilusão

 

só assim monge

conseguirás atravessar

a torrente de todas as correntes

 

 

            medita ó monge

            não sejas negligente

 

não deixes que as paixões

                                    entrem no teu coração

 

inconsciente

ó monge

                               não tragues

                               uma bola de ferro em brasa

                               que te fará gritar

 

oh

que sofrimento

 

***

 

não há concentração meditativa

para o que não tem

compreensão introspectiva

 

nenhuma sabedoria introspectiva

pode ser alcançada por quem não tem

concentração meditativa

 

aquele em que se encontram

tanto a concentração meditativa

como a compreensão introspectiva

está perto do nirvana

 

***

 

o monge

             que se retirou para um eremitério

             que acalmou a sua mente

             que compreende

                                    profundamente a doutrina

 

      existe nele

         uma bem-aventurança

            que transcende

               todas as doçuras humanas

                  e se atravessar

                      o círculo dos nascimentos e das mortes

atingirá o nirvana

 

***

 

      um monge sábio

      deve controlar os seus sentidos

      alegrar-se com a sua condição

      mantendo-se fiel à doutrina que abraçou

 

 

que o monge

                   escolha companheiros devotos

                   virtuosos

                   com uma vida sem mácula

 

que seja

            cordial

            educado

            benevolente

            puro

            em pensamento

            e na acção

 

encontrará

o fim do sofrimento

 

***

 

               como a trepadeira

               de jasmim

               deixa tombar

               flores murchas

               da mesma maneira

               ó monges

               deixai que caia de vós

               toda a luxúria

               avidez e ódio

 

***

 

o monge

            com um corpo calmo

            sereno no falar

            tranquilo no pensamento

            bem controlado

            que renunciou à vida mundana

 

esse na verdade

é o verdadeiro monge

 

que não se perturba

com as preocupações da vida

 

***

 

          cada um deve reprovar-se

 

          examinar-se a si mesmo

 

o monge que se vigia

que está atento

vive no seio da felicidade

 

***

 

cada um é o seu próprio mestre

cada um é o protector de si mesmo

cada um é o refúgio de si mesmo

 

cada um deve dominar-se

da mesma maneira que um treinador

domina um cavalo selvagem

 

***

 

o monge

             pleno de felicidade

             conhecedor da doutrina de buda

atingirá o reino da paz

                               onde deixam de existir

                               problemas e preocupações

 

o monge

             que embora jovem

se dedica

             ao ensinamento de buda

ilumina este mundo

                           como a lua

                           que emerge das nuvens

 

***

 

     esforça-te ó homem santo

     corta o fluxo da avidez

     descarta os desejos sensuais

 

          conhecendo a destruição

          de todas as coisas condicionadas

          torna-te ó homem santo

          o conhecedor do nirvana

 

 

quando um homem santo

                            atingiu o vértice do caminho

                            da concentração meditativa

                            da compreensão introspectiva

 

todas as suas preocupações desaparecem

 

a sua visão torna-se clara

 

e atinge a verdade

 

***

 

   aquele para quem não existe

   nem esta nem a outra margem

 

      para quem esta vida

      e a vida do além

      se encontram desveladas

 

         que está livre

         de preocupações

         e sem apegos

 

 

o que medita

                          pacífico

                          sem mácula

 

que cumpriu a sua missão

 

tendo alcançado

                       o objectivo mais elevado

 

esse é o homem santo

 

 

***

 

o sol brilha durante o dia

a lua brilha à noite

 

          o guerreiro brilha

          na armadura

 

 

o homem santo

brilha

ao meditar

 

 

mas só o buda

brilha resplandecente

dia e noite

 

***

 

         o espírito do santo

                       desembaraçou-se do mal

 

                       aquele que vive sozinho

                                             é um eremita

 

o que renuncia

a todo o mal

é um liberto-vivo

 

***

 

não se deve

   ofender

      nem

         atacar

            um homem santo

 

não deve

    um homem santo

      quando ofendido

         ou atacado

            dar lugar à raiva

 

maldito é aquele

que ofende ou atinge

um santo homem

 

maldito o santo

que responde

a uma ofensa ou agressão

 

***

 

        nada melhor

                          para um homem santo

                          do que subjugar a mente

                          às suas tendências

 

à medida que a intenção

de fazer o mal desaparece

também o sofrimento desaparece

 

 

aquele

         que nenhum mal faz

                                     em acção

                                                  em palavra

                                           em pensamento

 

            que é prudente

                                 nestes três princípios

 

esse

é o homem santo

 

***

 

assim como um brâmane

reverencia o fogo sacrificial

 

da mesma forma

 

se deve reverenciar o homem

de quem se aprendeu

o ensinamento de buda

 

***

 

nem

       pelo cabelo entrançado

nem

       pela linhagem

nem

       pelo nascimento

                                alguém se transforma

                                num homem santo

 

o que segue

a doutrina verdadeira

é um homem santo

 

 

de que serve

o teu cabelo entrançado

ó homem insensato

 

e as vestes

de pele de antílope

 

só te preocupas com a tua aparência exterior

 

limpo por fora e corrompido por dentro

 

 

      o que usa

      um hábito

      feito de trapos

                          magro

                          pálido

                          mostrando as veias

                              sobre todo o seu corpo

                          que medita

                              sozinho na floresta

 

merece o nome de santo

 

 

eu não chamo a um homem

santo

            só por ter nascido brâmane

 

se está repleto de apegos

                                   é apenas um arrogante

 

       o que é livre

                         de oposições e apego

 

 

          o que depois de ter cortado

          todos os grilhões com a existência

          e que nunca sentiu

          qualquer espécie de temor

          que superou

          todos os apegos

          liberto de toda a preocupação

 

 

        o que cortou

        o fio do ódio           

 

        o laço da cobiça

        a corda da ilusão

 

        liberto de toda

        a preocupação

                            desperto já neste mundo

 

 

o que

sem ressentimentos

                            suporta injúrias

                            suporta calúnias

                            suporta agressões

                            suporta a prisão

                            suporta a morte

 

                       cujo verdadeiro poder

                       é a paciência

                       e a serenidade

 

 

o que está livre da cólera

e com humildade tudo suporta

vivendo serenamente a sua última vida

 

 

      como uma gota de orvalho

      sobre uma folha de lótus

 

         ou um grão de mostarda

         cai da ponta de uma agulha

 

é o que não tem desejos

a quem chamo

de homem santo

 

 

          o que ainda

            durante esta vida

               compreende por si

                  o fim do sofrimento

 

                     liberto de qualquer fardo

                        livre de toda a preocupação

 

esse é o homem santo

 

 

o que tem

              um conhecimento profundo

              que é sábio

              que faz uma distinção correcta

                                entre o caminho certo e o errado

              que observa claramente

                                o caminho da libertação

              que atingiu

                                o mais alto

                                objectivo da doutrina

 

a esse chamo de homem santo

 

 

o que se mantém distante

                                     tanto de chefes de família

                                     como dos ascetas

 

que

      foge das relações

                              com o mundo

      não se ligando a ninguém

 

                         sem tecto

                         caminhando

                                          sem desejo

                                          sem preocupações

 

                   que de pouco

                   ou nada precisa

 

a esse chamo de homem santo

 

 

o que renunciou

à violência

para com todos os seres vivos

 

que não mata

nem faz com

que os outros matem

 

a esse chamo de homem santo

 

 

sem cólera

               sem hostilidade

                                       neste mundo de cólera

 

               sem defesa

                              neste mundo

                                                de guerra permanente

 

                        sem desejo

                                            e apego

                      neste mundo de desejos

 

a esse chamo de homem santo

 

 

aquele cuja

                lascívia e vaidade

                ódio e impostura

 

                                         caíram

                          como uma semente de mostarda

                              cai da ponta de uma agulha

 

a esse chamo de homem santo

 

***

 

                         o que profere

                         palavras claras de verdade

                         que não ofende ninguém

 

   o que neste mundo

   não se apodera de nada

   que não lhe tenha sido oferecido

 

         o que nada quer

         tanto deste mundo

         como do mundo do além

 

              livre da cobiça

              de preocupações

 

o que sem apego

 

que através do conhecimento perfeito

 

está liberto de todas as dúvidas

 

e chegou à outra margem

 

                         o que neste mundo

                         se afastou do mérito

                         e do demérito

 

                                 que não tem inquietação

                                 que é puro e cristalino

 

aquele que esplende

                            como a lua cheia

límpido puro

                            sereno

                                          que se libertou

                                          dos desejos

 

                    o que depois de ter

                    atravessado o pântano

                    escapou aos erros

                    à roda dos nascimentos

 

que atravessou

                     e chegou à outra margem

                que medita calmo

                                         desprendido de dúvidas

que não se apegou a nada

                                     que se livrou

                      de todas as preocupações mundanas

                               que alcançou o nirvana

 

          o que tendo abandonado

          os prazeres do amor

          que renunciou à vida no lar

          e aos desejos

          tornando-se um mendicante

 

                     o que tendo abandonado o desejo

                            renunciou à vida do lar

tornando-se um mendicante

                       destruindo toda a avidez

 

o que fugiu

dos reinos humanos

que escapou

ao mundo dos deuses

 

totalmente livre

de todas os cativeiros

 

                o que se afastou

                de todos os prazeres

               e desgostos

 

        que se tornou tranquilo

                            livre dos substratos da existência

 

que como um herói

               conquistou todos os mundos

 

o que separado de tudo

                                    feliz e desperto

                                    abençoado e luminoso

conhece a morte

o renascimento

de todos os seres

 

 

o homem de quem deuses

anjos e humanos

não conseguem encontrar rasto

 

conhecedor

da verdade

da extinção

 

 

todo aquele para quem

                                o passado

                                o presente

                                o futuro

                                            nada são

 

                                que nada deseja

                                que a nada se apega

                                que de nada se apossa

 

                                o indizível

                                o excelente

                                o sublime

                                o vencedor de todo o sofrimento

                                o conhecedor da verdade

                                o mestre puro dos deuses

                                o mestre puro dos homens

                                o liberto-vivo

 

 

           o que conhece

          as suas vidas anteriores

 

                                 que vê o céu

                                 e o mundo dos abismos

 

                       que se libertou

                       da roda dos nascimentos

 

                       que atingiu

                       a perfeição da doutrina

 

 

o sábio que alcançou

o auge

da elevação espiritual

 

a esse chamo

e será sempre conhecido

por homem santo

 

 

 

***

 

    Versão livre do Dhammapada - Buda


                                    


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