ANTIPOESIA

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sábado, 16 de janeiro de 2021

FLORES DE BUDA II

 

  A Sidarta Gautama

 

 

***

 

          pela força das suas asas

          os flamingos cruzam

          os céus voando

 

pela vitória

sobre a avidez da vida

os sábios

são levados para longe do mundo

 

***

 

   o mentiroso afastado

     do que é verdadeiro

        imagina alucinado

                              que a morte é o fim

                              sendo capaz de tudo

 

***

 

   os avarentos nunca alcançarão

   os reinos celestiais

   os insensatos desprezam a caridade

 

o sábio rejubila

quando dá

é feliz aqui e no além

 

***

 

por que caminho

   poderás descobrir

      o buda

                       de alcance infinito

                       que não deixa rasto

                       cuja glória jamais

                       pode ser desfeita

                                               a quem nenhuma

                                               contaminação

                                               pode perseguir

 

por que caminho

poderás descobrir

o buda

de alcance infinito

que não deixa rasto

em quem nunca

existe o desejo

que difunde

o vir a ser

 

***

 

difícil é nascer humano

                                dura é a vida dos mortais

 

difícil é adquirir a oportunidade

                                de ouvir a verdade sublime

 

mais raro ainda

                                é ver um buda

 

 

evitar o mal

cultivar o bem

e purificar a mente

 

é este o ensinamento

dos budas

 

 

   permanecer paciente

   é a maior austeridade

   o verdadeiro ascetismo

 

          não se é um verdadeiro monge

          quando se prejudica outrem

          nem um verdadeiro asceta

          quando se afrontam outros

 

 

não desprezar

não prejudicar

                    conter-se

                    de acordo com a disciplina

                                            moderar-se na comida

                                            viver solitário

                                            devotar-se à meditação

 

é este o ensinamento

dos budas

 

***

 

não há desejos sensuais

que satisfaçam o homem

o desejo é insaciável

 

mesmo que chovam moedas de ouro

         o homem não se saciará

 

     os desejos atormentam-nos e enganam-nos

             dão pouca satisfação e muita dor

 

               tendo-o entendido o homem sábio

               nem mesmo nos prazeres celestiais

encontra deleite

 

o discípulo do buda supremo

compraz-se com a exterminação

de todo e qualquer desejo

 

***

 

tomados

por um medo insensato

alguns homens

                     procuram refúgio

                     em muitos lugares

 

                                                montes

                                                florestas

                                                árvores sagradas

                                                santuários

 

       não são refúgios seguros

 

  não é recorrendo a tais refúgios

que se libertam do sofrimento

 

 

o que se refugia em buda

no ensinamento e na comunidade

penetra com sabedoria transcendental

as quatro nobres verdades

 

o sofrimento

                 a causa do sofrimento

                                                o fim do sofrimento

             o nobre caminho óctuplo

                                            que conduz à cessação

de todo o sofrimento

 

          é na realidade

          o refúgio seguro

          a suprema protecção

 

o que

tendo ido

para tal abrigo

fica livre

de todo o sofrimento

e será

um bem-aventurado

 

 

difícil de encontrar

é o homem desperto

o buda

 

     não nasce

                   em qualquer lugar

 

no lugar onde nasce

                   um tão grande sábio

 

essa comunidade prospera na felicidade

e os ascetas vivem em plena tranquilidade

 

          bendito é o nascimento dos budas

          bendita a enunciação da doutrina sagrada

          bendita é a concórdia entre os discípulos

          bendita é a tranquilidade dos ascetas

 

 

aquele que reverencia

   os dignos de reverência

      os budas e seus discípulos

         que transcenderam

            todos os impedimentos

               e passaram além

                  do alcance do abatimento

                     e da lamentação

 

              aquele que reverencia

              tais seres pacíficos

              libertos de toda a miséria

              e sofrimento

seu mérito não é mensurável

 

***

 

vivemos felizes

amistosos

entre as pessoas hostis

 

vivemos livres de ódio

no meio das pessoas

que se odeiam

 

vivemos felizes

amistosos

no meio dos incuráveis

 

neste mundo de morte

encontramo-nos

livres da morte

 

vivemos felizes

livres da avareza

da ambição

no meio

dos avarentos

e ambiciosos

 

no meio de homens

gananciosos

vivemos livres da avareza

e da ambição

isentos

de qualquer desejo

 

felizes na realidade

vivemos nós

os que nada possuímos

 

plenos de felicidade

brilhamos como os deuses

que irradiam

 

***

 

o vencedor vive atraído

                                pelo ódio e pela cólera

 

o vencido vive imerso

                                na tristeza

 

o pacífico vive feliz

desembaraçando-se

tanto da vitória como da derrota

 

***

 

nenhum fogo

                   queima como as paixões

 

nenhuma miséria

                   se pode comparar ao ódio

 

nenhum sofrimento

                   à ilusão da vida

 

nenhuma felicidade

suplanta a paz profunda

do nirvana

 

 

a fome é a pior das doenças

 

     a ilusão da vida

          com os seus condicionamentos

               o pior dos sofrimentos

 

quem reconhece uma coisa e outra

no âmago da realidade

conquista a felicidade do nirvana

 

a saúde é o maior bem

                                entre todos os bens

o contentamento

                                o maior tesouro

o recolhimento do espírito

                                o nosso maior amigo

 

o nirvana

é

a suprema felicidade

 

***

 

tendo saboreado a solidão e a paz

o discípulo torna-se livre de dor e sem mácula

desfruta profundamente o sabor da felicidade da libertação

 

 

bom é conhecer os sábios

          viver com eles uma verdadeira felicidade

 

segue

os preceitos

do homem

sábio

                          justo

                          íntegro

                          constante

                          sapiencial

                          responsável

                          devoto

 

     deve seguir-se um homem assim

     que é verdadeiramente bom e consciente

     assim como a lua segue

     o caminho das estrelas

 

***

 

          não te prendas a quem amas

       não te prendas a quem não amas

 

          se te separas de quem amas sofres

 e também sofres se te separas de quem não amas

 

 

     não guardes nada que te é querido

a separação do que te é querido é dolorosa

 

não busques a quem amar

perder quem se ama

é doloroso

 

se não houver atracção

se não houver repulsão

nenhum elo pode existir

entre amar e ser amado

 

não há laços para os

que não têm apegos

 

 

de quem se ama

                       surge o infortúnio

de quem se ama

                       surge o medo

 

          quem se afastar

          de quem ama

          não conhecerá

          quer o infortúnio

          quer o medo

 

da alegria nasce a tristeza

da alegria nasce o medo

 

quem se liberta da alegria

não conhece a tristeza e o medo

 

do apego

             nasce a mágoa

do apego

             nasce o medo

 

não existe mágoa

para quem é

livre de apego

 

de onde então o medo

 

da voluptuosidade

                          nasce o desgosto

da voluptuosidade

                          nasce a angústia

 

não existe mágoa

para quem é totalmente livre

da voluptuosidade

 

quem se liberta

                     da voluptuosidade

não conhece

                     o desgosto e a angústia

 

do anseio

              nasce a mágoa

do anseio

              nasce o medo

 

não existe mágoa

para quem é totalmente livre

de anseio

 

de onde então o medo

 

***

 

as pessoas prezam

o homem que encarna

                           a virtude

                           e o discernimento

 

        que tem princípios

        que realizou a verdade

        que respeita as regras

        que cumpre a doutrina

        que faz o que deve fazer

 

esse é um bem-amado

 

***

 

o homem que tem

   como objectivo o inefável

      que é alheio a toda a vontade

 

não mais condicionado

pelos prazeres dos sentidos

                                          ascende ao céu

 

***

 

quando após uma longa ausência

   um homem regressa de longe

      em segurança

         ao chegar a casa

            seus parentes e amigos

               dão-lhe as boas vindas

 

como um familiar

   dá as boas vindas

      à pessoa querida

         do mesmo modo

            as suas boas acções

            receberão o benfeitor

            que tenha partido

            deste mundo

            para o próximo

 

***

 

o homem deve abandonar a raiva

renunciar ao orgulho

libertar-se de todos os laços da existência

 

o sofrimento não atinge o que é desapegado

que não se prende à mente

e que não se prende ao corpo

 

***

 

quem sustém

um acesso de raiva

como um cocheiro

que trava a carruagem

em movimento

a esse chamo

um verdadeiro condutor

 

          os outros limitam-se

          a segurar as rédeas

 

 

supera a raiva com a serenidade

supera a maldade com a bondade

supera a avareza com a generosidade

supera a mentira com a verdade

 

 

fala verdade

                 não te rendas à ira

 

quando te pedem

                       

                        mesmo

                        que pouco tenhas

 

por estes três meios

chegarás à presença dos deuses

 

 

os que mal não fazem

a nenhum ser

          e que seguem de modo constante

                   o caminho da virtude

 

         alcançarão o que não perece

                onde todo o sofrimento

                      se encontra extinto

 

 

          os que sempre vigilantes

          que se disciplinam dia e noite

          sempre determinados ao nirvana

          vêem desaparecer as suas faltas

 

***

 

este é um dizer antigo

 

os homens culpam os que permanecem em silêncio

 

culpam os que falam muito

 

culpam os que falam com moderação

 

não há ninguém no mundo que não seja culpado

 

 

nunca houve

nunca haverá

nem há agora

alguém

totalmente censurado

totalmente louvado

 

***

 

quem pode culpar o homem

digno como uma moeda de ouro puro

 

os deuses louvam-no e brahman venera-o

 

                que o homem vigie o seu corpo

                que seja comedido na acção

                que abandone a má conduta

                que pratique bons actos

 

                que um homem vigie a sua fala

                que se mantenha calmo quando fala

                que seja contido a falar

                que abandone a má conduta verbal

                que fale com palavras justas

 

                que um homem vigie a sua mente

                que controle o seu pensamento

                que abandone a má conduta da mente

                que pense correctamente

 

os sábios

que dominam

                   o corpo

                   o falar

                   o pensamento

 

merecem que os tenhamos por mestres

 

***

 

agora és como uma folha seca

os mensageiros da morte

aguardam-te

 

     estás na véspera da tua partida

     no entanto nada preparaste para a tua viagem

 

 

     ergue uma ilha para ti próprio

 

     com esforço constante torna-te sábio

 

livre de impurezas

e sem mácula

entrarás na morada celestial dos perfeitos

 

 

os teus dias estão a terminar

 

findou o tempo que te foi dado

 

encontras-te face a face com a morte

 

não podes negociar mais tempo de vida

e não te preparaste para a viagem

 

ergue uma ilha para ti

 

com esforço constante

torna-te sábio

livre de impurezas

e sem mácula

não mais conhecerás

nem nascimento

nem a morte

 

***

 

uma por uma

pouco a pouco

a cada instante

deveria um homem sábio

 

          remover as manchas do seu espírito

          tal como um hábil artesão remove

          as impurezas da prata

 

***

 

quando a ferrugem

surge no ferro

expande-se e corrói o ferro

 

não orar

            é a ruína para as escrituras

 

negligência

            é a ruína para uma casa

 

desleixo

            é a ruína para a aparência pessoal

 

a indolência

            torna inviável toda a vigilância

 

o mau comportamento

            é a mancha da mulher

 

o interesse

            a mácula da caridade

 

as más acções

                    são manchas deste mundo

                            e do próximo

 

a pior das manchas

é a ignorância ou ilusão

 

essa

      a pior de todas as máculas

 

            destruí esta mancha

            e tornai-vos imaculados

            ó monges

 

***

 

a vida é fácil

   para o desavergonhado

      que é imprudente

 

para o amante

                     de brigas

                     para o vociferador

                     para o fanfarrão

                     para o insolente

                     para o desaforado

 

a vida é difícil

                   para o modesto

                   que procura pureza

                   que é desapegado

                   despretensioso

                   puro na vida

                   e com discernimento

 

***

 

o homem

          que aniquila os seres vivos

          que profere mentiras

          que toma para si o que não é seu

          que seduz a mulher de outro homem

          que é viciado em bebidas alcoólicas

 

tal homem é neste mundo

um homem já destruído

 

***

 

sabe ó homem bom

que as coisas más

são difíceis de controlar

 

não deixes que

                     a avidez

                     a ilusão

                     a maldade

                                    te arrastem

                                    para um sofrimento

                                    prolongado

 

***

 

não há fogo

                que queime como a luxúria

não há opressão

                como a do ódio

não há rede

                como a da ilusão

não há torrente

                como o anseio

 

***

 

como é fácil ver os defeitos nos outros

e difícil

ver os nossos próprios defeitos

 

apreciamos encontrar

defeitos nos outros

e escondemos os nossos

tal astuto caçador

que se esconde

por detrás de ramos

 

quem o faz suicida-se

 

***

 

não há nenhum traço no céu

e nenhum renunciante

fora do ensinamento do buda

 

a humanidade deleita-se na ilusão

enquanto os budas

estão livres de todas as ilusões

 

não há coisas condicionadas

que sejam eternas

e não há instabilidade no buda

 

***

 

          não é por fazer juízos arbitrários

          que um homem se torna justo

 

um homem sábio é aquele

que investiga tanto o que está certo

como o que está errado

 

         o que não julgar os outros

         de forma discricionária

         mas que faça um juízo imparcial

         de acordo com a verdade dos factos

         esse homem perspicaz

 

é um guardião

da lei

chamado de justo

 

***

 

um monge não é venerável pelos seus cabelos grisalhos

ser velho por causa da idade é ter envelhecido em vão

 

o que mergulha

                     na verdade

                     na justiça

                     na virtude

                     na contenção

                     na paciência

                     na pureza

                     na fidelidade

                                       é o venerável

 

não é pela cabeça rapada

                                   que um homem indisciplinado

                                   que está repleto de desejos

                                   que é ganancioso

                                   que é mentiroso

                         se faz um monge

 

          não é por adoptar

          exteriormente um hábito

          que alguém se torna

          num verdadeiro monge

 

quem quer que viva

                            no ensinamento

                            uma vida santa

transcendendo

                            tanto o mérito

                            como o demérito

 

caminhando

                 com compreensão no mundo

 

esse é verdadeiramente um monge

 

***

 

     não é por observar o silêncio

      que alguém se torna sábio

 

     se for insensato e ignorante

     o silêncio não faz dele um eremita

 

o sábio age como quem tem

uma balança na sua mão

e aceita somente o bem

 

 

o sábio ao rejeitar o mal

é verdadeiramente um sábio

 

 

o que fere os seres vivos não é sábio

só deve ser chamado de sábio quando é inofensivo

para os outros seres

 

 

quando a destruição total

da ilusão e do anseio for atingida

sereis sábios

 

***

 

o caminho óctuplo

                          é o melhor de todos os caminhos

 

as quatro nobres verdades

                          são as melhores de todas as verdades

 

a melhor de todas as coisas

é ser amorosamente

indiferente a tudo

 

percorre este caminho

e escaparás

à tirania da morte

 

          ao percorrer este caminho

          porás fim ao sofrimento

 

          este foi o caminho ensinado

          por buda

          caminho que é o fim de toda a dor

 

 

todas as coisas condicionadas

                                          são impermanentes

 

          quando o vemos

          com sabedoria

          afastamo-nos

          do sofrimento

 

               este é o caminho

               para a libertação

 

todas as coisas condicionadas

                                         são insatisfatórias

 

          quando o vemos

          com sabedoria

          afastamo-nos

          do sofrimento

 

               este é o caminho

               para a libertação

 

todas as coisas

são não-eu

não há um eu que nos acolha

 

          quando vemos isso

          com sabedoria

          afastamo-nos

          do sofrimento

 

               este é o caminho

               para a purificação

 

***

 

da concentração nasce a sabedoria

sem meditação a sabedoria diminui

 

 

          é a vontade

          que é necessário abater

          e não a floresta

 

                 é na floresta da vontade

                 que o perigo se abriga

 

corta a floresta

do teu espírito

e terás alcançado a paz eterna

 

***

 

se não cortares

com prudência

os ramos da paixão

entre homem e mulher

sentir-te-ás enlaçado

à semelhança

do vitelo por desmamar

 

corta o afecto que alimentas por ti

          como um homem

que arranca com a sua própria mão

          um lótus de outono

 

cultiva apenas o caminho

para a paz e para o nirvana

como foi ensinado pelo bem-aventurado

 

***

 

aqui

ficarei a viver

durante o período das chuvas

aqui

ficarei

no inverno e no verão

 

          assim pensa o insensato

          sem que a morte

          alguma vez seja lembrada

 

   tal como uma grande torrente

   leva na enxurrada a aldeia que dorme

 

          também a morte apanha e leva

          na enxurrada

          o homem de mente apegada

          cego pela sua mulher

          pelos seus filhos

          casa e gado

 

 

para o que é assaltado pela morte

não há protecção por parte

dos seus familiares e companheiros

 

nenhum o pode salvar

                               nem mulher

                               nem filhos

                               nem pai

                               nem outros parentes

                               nem amigos

 

percebendo-o

                    o que é digno

                    da verdade da doutrina

que é sábio

                 encaminhar-se-á para o caminho

                 que conduz à extinção dos desejos

 

 

se renunciando a uma felicidade passageira

se pode perceber uma felicidade maior e real

que o sábio renuncie à menor considerando a maior

 

***

 

o que é

           constante

           sensato

                      de compreensão consciente e clara

                      evita o que deve ser evitado

                      e executa o que deve ser executado

 

conhecendo a realidade

extingue a ilusão

 

***

 

        tendo morto a fonte da existência e o ego

        tendo liquidado os pontos de vista falsos

        tendo exterminado os sentimentos

        tendo  assassinado as coisas

        tendo extinguido o apego

 

o que é perfeito torna-se inabalável

 

tendo morto a fonte da existência e o ego

tendo liquidado os dois pontos de vista extremos

 

o homem santo

caminha

sem se sentir angustiado

 

***

 

   os discípulos de gautama

que dia e noite

recordam as qualidades do buda

 

                               com o espírito

                                   em devoção permanente

                                        acordam sempre felizes

 

que dia e noite

recordam a doutrina do buda

 

com o espírito

                                   em devoção permanente

                                        acordam sempre felizes

 

os discípulos de gautama

que dia e noite

recordam as qualidades da comunidade

 

com o espírito

em devoção permanente

acordam sempre felizes

 

os que constantemente

                                          dia e noite

             praticam a consciência do corpo

acordam sempre felizes

 

 

os discípulos de gautama

cujas mentes

dia e noite

se deleitam

na prática da não-violência

acordam sempre felizes

 

os que

cujas mentes

dia e noite

se deleitam

na prática da meditação

acordam

sempre felizes

 

***

 

penosa é a vida

                     de um eremita e de um monge

 

é difícil ter prazer nessa vida

 

difícil e penosa

                     é a vida no lar

 

dura é a vida

                     com os próximos

                     e com estranhos

 

não continues com os laços

que te prendem à vida

deixa de ser um andarilho sem rumo

acaba com o sofrimento

 

***

 

      o monge de fé e virtude confirmadas

             que possui os maiores bens deste mundo

                  viva onde viver

                     em toda a parte é respeitado

 

***

 

os espíritos nobres

brilham ao longe como

as montanhas dos himalaias

 

os homens vulgares

são invisíveis como

flechas disparadas na escuridão da noite

 

***

 

aquele

         que se senta sozinho

         que dorme sozinho

         que ensina o que não sabe a si próprio

         que anda sozinho

         que se esforça e

         que se domina a si próprio

 

encontrará a bem-aventurança

no retiro da floresta

 

 

aquele que mente

despenha-se no abismo

 

como no abismo se despenha quem nega

uma acção que nunca deveria ter cometido

 

têm ambos o mesmo destino

 

a morte

 

perdem-se na escuridão dos abismos

               na sua nova existência

 

 

há muitos

que maus e dissolutos

vestem o hábito dos monges

 

perdem-se na escuridão

dos abismos da existência

 

***

 

          será melhor

          engolir uma bola

          de ferro em brasa

          do que sendo

          um monge libertino

          e corrupto

          comer as esmolas

          do povo

 

***

 

quatro desventuras

recaem sobre o homem imprevidente

que leva à imoralidade a mulher de um outro

 

      aquisição de demérito

            sono perturbado

                  má reputação

                     renascimento em estado de aflição

 

breve é o prazer do homem

e da mulher que se escondem

 

tal homem adquire demérito

e nascimento infeliz no futuro

 

duro é o castigo

imposto a tal homem e mulher

 

***

 

assim como o espinho

                               mal extraído

                                                 infecta a mão

assim também o ascetismo

                                      mal praticado

                                                          arrasta o homem

                                                            para o abismo

 

 

               qualquer acto impensado

               qualquer observância corrupta

               qualquer forma de celibato

               qualquer ascetismo contestável

 

nada disto dá grandes frutos

 

***

 

se é para fazer alguma coisa

que se faça com firmeza

 

a vida monástica

                       sem consciência

                       e astuciosa

ainda levanta mais a poeira das paixões

e mancha-se de dia para dia

 

 

é melhor não fazer uma má acção

 

os remorsos atormentam quem a faz

 

melhor é praticar uma boa acção

da qual nunca

nos lamentaremos

 

***

 

      assim como a fortaleza da fronteira

                  é bem guardada

       tanto por dentro como por fora

 

protege-te

 

      não permitas que esta oportunidade

      de crescimento espiritual se esfume

 

vigia o teu coração

 

            bastar-te-á apenas um instante de distracção

            para que caias no sofrimento dos abismos

 

***

 

   os homens que

   se envergonham

   do que não

   se deviam envergonhar

 

   e não se envergonham

   do que

   se deviam envergonhar

 

            seguindo uma falsa doutrina

            encaminham-se para a aflição

            e para o maior dos abismos

 

      os que

      temem algo

      quando não

      há nada a temer

 

      e não temem

      nada

      onde há algo a temer

 

            seguindo uma falsa doutrina

            encaminham-se para a aflição

            e para o maior dos abismos

 

         aqueles que imaginam

         o mal

         onde o mal

         não existe

 

         e não vêm o mal

         onde o mal existe

 

                  seguindo uma falsa doutrina

                  encaminham-se para a aflição

                  e para o maior dos abismos

 

os que

discernirem

o errado como errado

 

e o certo como certo

seguindo

a doutrina correcta

 

dirigem-se para o caminho da felicidade

 

 

 

***

 

 Versão livre do Dhammapada - Buda


                      


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