ANTIPOESIA

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quinta-feira, 7 de janeiro de 2021

CAPÍTULOS INTERIORES II

 

 

A Chuang Tse

 

 

 

 

***

 

 

quando lao tse morreu

chin shih foi ao funeral

 

soltou três gritos de dor e saiu

 

                                 

um discípulo questionou-o

 

não era amigo do nosso mestre

 

 

chin shih respondeu

 

era

 

 

volveu o discípulo

 

assim sendo acha que foi racional

a sua expressão de pesar pela sua morte

 

 

chin shih disse

 

acho

estive a pensar que ele era um homem mortal

                         porém agora sei que não era

 

         quando cheguei para as condolências

         encontrei pessoas idosas que choravam

         como chorariam pelos filhos jovens

 

que carpiam como se tivessem perdido as mães

 

quando essas pessoas se encontraram

deviam ter dito palavras sobre o acontecimento

e derramado lágrimas sem qualquer intenção

 

chorar assim pela morte de alguém

é fugir dos princípios naturais

da vida e da morte

aumentando o apego humano

esquecendo-se da fonte

da qual recebemos esta vida

 

         os antigos chamavam a isto

         fugir à retribuição do céu

 

o mestre veio

porque tinha

                chegado a hora de nascer

partiu

       porque chegou o tempo de partir

 

 

os que aceitam o curso natural

e a sequência das coisas

estão acima das alegrias e dos pesares

 

   os antigos falavam disto

   como a emancipação da escravatura

 

 

a madeira é consumida

mas o fogo continua e não sabemos

quando chegará o seu fim

 

 

***

 

 

confúcio disse a yen hui

 

deves fazer jejum         digo-te porquê

julgas que será fácil trabalhar a partir de ideias preconcebidas

o céu desconfia daqueles que assim pensam

 

 

yen hui disse

 

a minha família é pobre

e durante muitos meses

não provámos

nem vinho nem carne

 

                             não será isto jejum

 

 

confúcio disse

 

é verdadeiramente jejum

segundo as regras religiosas e para os rituais

porém

não é o jejum do coração

 

 

volveu yen hui

 

e posso perguntar-lhe

em que consiste

o jejum do coração

 

 

confúcio disse

 

concentra a tua vontade

na unidade

 

não ouças com os ouvidos

e sim com a mente

 

a mente só pode pensar

assim não ouças com a mente

mas com o coração

 

a energia vital no coração

está vazia

receptiva a tudo

 

o tao habita no vazio

e o vazio é o jejum da mente

 

 

yen hui disse

 

antes desta conversa eu pensava ser hui

            agora que o ouvi já não sou mais hui

será isto o vazio

 

 

confúcio respondeu

 

exactamente

 

 

***

 

 

tse chi andava

pelos montes de shang

quando viu uma árvore enorme

que o maravilhou

 

mil carros

            com quatro animais atrelados

poderiam abrigar-se

                          sob a sua sombra

 

perguntou-se

que árvore será esta

 

há-de ser de madeira preciosa

 

 

olhando para cima

viu que os seus ramos

eram tortos demais

para fazer vigas

e olhando para baixo

viu que a madeira

do tronco

era muito curva

e cheia de nós

o que a tornava

imprestável

para fabricar ataúdes

 

provou uma das suas folhas

      e pensou que lhe tinham

         arrancado a pele dos lábios

 

o seu odor era tão forte

      que bastaria para intoxicar

         um homem durante três dias

 

 

tse chi disse

 

esta árvore não serve para nada

não admira que tivesse crescido tanto

e tenha chegado a esta idade

 

 

um homem de espírito

bem pode seguir o

seu exemplo de inutilidade

 

 

todos os homens sabem

         qual a utilidade das coisas úteis

            mas não há quem saiba

               a utilidade do inútil

 

 

***

 

 

no estado de lu

vivia um homem

chamado wang tai

a quem tinham

amputado um pé

 

os seus discípulos

eram tão numerosos

como os de confúcio

 

 

chang chi perguntou a confúcio

 

         esse wang tai é um mutilado

         no entanto tem tantos seguidores

               no estado de lu como tu

 

         não se levanta para ensinar

         nem se senta para dissertar

 

contudo

os que o procuram

sem nada saber

voltam felizes

 

chegam até ele vazios

e voltam cheios

 

será ele daquelas pessoas

que podem ensinar sem palavras

e influenciar o espírito das multidões

sem empregar meios materiais

 

         poderá a mente ser perfeita

         se o corpo é deformado

 

que espécie de homem é ele

 

 

confúcio disse

 

esse homem é um sábio

 

bem quisera ir procurá-lo

   mas tenho-me atrasado na visita

      para além de ficar atrás de outros

 

mesmo assim irei e fá-lo-ei meu mestre

 

não devem fazer o mesmo os que são menos do que eu

 

porque não farão o mesmo os meus discípulos

 

 

eu farei com que não só o estado de lu

como o mundo inteiro o siga

 

 

chang chi disse

 

o homem é um mutilado

e ainda assim o povo

chama-lhe mestre

 

deve ser um homem

muito diferente

dos homens comuns

 

         o que é que ele tem de especial

         no seu modo de exercitar a mente

 

 

confúcio respondeu

 

a vida e a morte

   não passam

      de transformações

          do grande momento

            mas não o afectam

 

o céu e a terra

                   podem entrar em colapso

porém o seu modo

                        de pensar perdurará

 

ele compreende a realidade verdadeira

e não é afectado pelas aparências externas

 

deixa que as coisas mudem naturalmente

e assim agarra-se com firmeza às raízes

 

 

chang chi perguntou

 

como assim

 

 

confúcio respondeu

 

do ponto de vista de diferenciação das coisas

nós distinguimos entre o fígado e a bílis

entre o estado de chu e o de yueh

 

do ponto de vista da sua semelhança

todas as coisas são uma única

 

se vemos o que é igual em todas as coisas

então as dez mil coisas tornam-se numa só

 

aquele que vê as coisas

   sob essa luz nem mesmo

      se perturba pelo que lhe

         chega através dos sentidos

            da audição e da visão

               deixando o espírito vaguear

                  na harmonia

                      que é natural nas coisas

 

ele vê a unidade nas coisas

e não nota a perda dos objectos particulares

 

assim a perda do seu pé representa para ele

o mesmo que a perda de outro tanto de barro

é como deitar fora um pedaço de lixo

 

 

chang chi disse

 

mas ele cuida

apenas de si

vive para si

 

utiliza a sua sabedoria

para aperfeiçoar a mente

e usa a mente para alcançar

a mente universal

 

qual a razão pela qual são tantos os que vão até ele

 

 

confúcio disse

 

um homem

      não procura ver o seu rosto

na água corrente

      mas apenas na água tranquila

 

só aquele que tem tranquilidade

em si mesmo

pode tranquilizar os outros

 

o que em si mesmo é quietude

pode doar quietude aos outros

 

 

a graça da terra culminou

apenas nos pinheiros e nos cedros

 

no inverno e no verão são igualmente verdes

 

a graça de deus

derramou-se sobre o rei shun

 

e só este chegou à rectidão

 

felizmente ele era capaz de se corrigir

e assim obteve os meios pelos quais tudo se corrige

mesmo a vida dos outros

 

 

***

 

 

o duque ai do estado de lu

disse a confúcio

 

no estado de wei há um homem feio

chamado ai tai to

 

os homens que com ele convivem

         não o conseguem esquecer

             nunca se apartando dele

 

 

as mulheres que o vêem dizem aos pais

 

preferia ser a concubina deste homem

a ser a esposa de um outro

 

 

nunca tentou orientar os outros

mas as pessoas

limitam-se a segui-lo

 

não tem ao seu dispor

nenhum poder de governante

pelo qual possa proteger as vidas dos homens

 

tão-pouco tem

fortuna amontoada

com a qual possa alimentar os pobres

 

e é além disso terrivelmente feio         tão feio

que pode meter medo a qualquer criatura

que viva debaixo do sol

 

concorda com as pessoas

mas nunca as persuade

 

sabe apenas o que acontece

no lugar onde vive

 

contudo

tanto homens

como mulheres

procuram

persistentemente

a sua companhia

 

assim deve haver nele algo

diferente dos demais

 

fui procurá-lo e verifiquei

           que é na verdade

       horrorosamente feio

 

 

ainda não tínhamos estado

   muitos meses em contacto

      quando comecei a ver

         que havia algo nesse homem

 

antes de um ano

                 comecei a confiar

                 inteiramente nele

 

como o meu estado

      necessitava de um

         primeiro-ministro

            ofereci-lhe o cargo

 

olhou-me de mau humor

antes de responder

e pareceu-me que

preferia declinar a oferta

 

talvez não me julgasse

bom demais para ele

 

de qualquer modo dei-lhe o cargo

   porém

em muito pouco tempo deixou-me

 

afligi-me

           como se tivesse perdido um amigo

           como se estivesse de luto

           como se não houvesse mais ninguém

           com quem eu pudesse viver

                                           alegremente no meu reino

 

 

que espécie de homem é este

 

 

***

 

 

é importante a conservação do corpo

 

não será mais valioso

                    aquele que preserva a sua virtude

 

 

ai tai to não dizia nada

e confiavam nele

nada fez e era amado

 

até lhe ofereceram o governo de um país

com o receio de que ele o não quisesse aceitar

 

na verdade

    ele deve ser aquele homem

        que atingiu a perfeita harmonia

            e cuja virtude não se manifesta exteriormente

 

 

o duque ai perguntou

 

o que é que queres dizer quando afirmas

que ai tai to atingiu a perfeita harmonia

 

 

confúcio disse

 

vida e morte

ganho e perda

falhanço e sucesso

pobreza e opulência

valor e inutilidade

elogio e censura

fome e sede

calor e frio

são tudo mudanças

na ordem natural das coisas

 

alternam entre si como o dia e a noite

ninguém sabe onde uma acaba e a outra começa

por conseguinte não deveriam perturbar a nossa paz

ou penetrar as nossas almas

 

 

vive de tal maneira

que te sintas bem

cheio de alegria

em harmonia com

o mundo

 

partilha a paz da primavera

com as coisas criadas

deste modo crias as estações

no teu próprio coração

 

 

é a isto que se chama harmonia perfeita

 

 

***

 

 

o sábio deixa o seu espírito em liberdade

enquanto o conhecimento é considerado

como uma manifestação exótica

 

os acordos são feitos para

            cimentar as relações de amizade

 

os bens

            para o tráfico social

 

as artes mecânicas

            apenas para servirem o comércio

 

o sábio não inventa

            e não emprega o que sabe

 

ele não se separa do mundo

            e não necessita de cimentar as relações

 

não sofre perdas

            e não tem necessidade de adquirir

 

nada vende

            e não se utiliza do comércio

 

estas quatro qualificações foram-lhe doadas por deus

 

isto é

o sábio

é alimentado por deus

e aquele que é assim alimentado por deus

pouca necessidade tem de ser alimentado pelo homem

 

 

tem a forma humana

sem as paixões humanas

 

devido ao facto de ter a forma humana

associa-se aos homens

 

devido ao facto de não ter paixões humanas

as questões do certo e do errado não o preocupam

 

na verdade é infinitesimal o que pertence ao ser humano

e infinitamente grande a parte

que o faz ser celestialmente perfeito

 

 

***

 

 

hui tse

disse a chuang tse

 

pode um homem viver sem desejos

 

será que primitivamente os homens

                                       não tinham paixões

 

 

chuang tse disse

 

certamente

 

 

hui tse disse

 

mas se um homem

         não tem desejos e paixões

o que é que o faz ser um homem

como pode ser chamado de homem

 

 

chuang tse respondeu

 

o tao dá-lhe a aparência

o céu dá-lhe o corpo

 

qual o motivo por que não poderá ser chamado de homem

 

quando digo que não tem desejos

quero dizer que não se perturba com o gostar

 

aceita as coisas como elas são

e não as procura melhorar

 

 

***

 

 

o homem perfeito

é o que sabe distinguir

o que vem do céu

daquilo que vem do homem

 

 

o que é o homem verdadeiro

 

o homem verdadeiro de outrora

não se importava de ser pobre

 

não era orgulhoso

não fazia planos

 

podia subir a altas montanhas

                                        sem ter medo

 

entrar na água

                   sem se molhar

 

e passar pelo fogo

                        sem se queimar

 

é este o conhecimento que conduz ao tao

 

 

os verdadeiros homens de antigamente

dormiam sem que tivessem sonhos

e acordavam sem ansiedade ou preocupações

 

comiam indiferentes ao paladar

e respiravam profundamente

 

os homens verdadeiros

aspiram o ar até aos calcanhares

e os vulgares até à garganta

 

 

da boca dos perversos

                              as palavras

são expelidas como vómitos

 

 

quando as afeições e desejos do homem

são intensos

os seus dons divinos são superficiais

 

 

 

os verdadeiros homens antigos

não sabiam

o que era amar a vida ou temer a morte

 

não se alegravam

                      pelos nascimentos

nem se esforçavam

                        para evitar a morte

chegavam

            sem preocupações

e partiam

          sem preocupações

 

era tudo

 

 

não se esqueciam

de onde tinham surgido

e não procuravam o seu fim

 

aceitavam a vida e as coisas

que lhes eram dadas com alegria

e quando se afastavam

não pensavam mais nelas

 

eis o que se chama

   não desencaminhar

        o coração do tao

          não usar a mente

             contra o tao

e não suprir o natural

por meios humanos

 

este é o homem verdadeiro

 

um tal homem

tem a mente livre

modos calmos

aparência feliz

 

é tão frio como o outono

e tão suave como a primavera

 

      a sua alegria e a sua raiva

      fluem como a mudança

      das estações

 

      está em harmonia

      com todas as coisas

      e não sofre limitações

 

 

***

 

 

    o homem perfeito de outrora

    conservava-se firme e não vacilava

 

    tinha um semblante humilde

    mas não era servil

 

    era independente

    mas não era teimoso

 

    aberto a tudo

    mas sem vanglórias

 

    sorria se isso agradava

    e respondia naturalmente

 

 

a sua radiância tinha origem

na sua luz interior

 

 

***

 

 

a mãe terra

                carrega-me com o corpo

 

faz com que brinque na vida

 

ajuda-me na velhice

 

e faz-me descansar na morte

 

 

o que faz a vida ser boa

também faz

com que a morte o seja

 

 

o sábio aceita

de boa vontade

a morte prematura

a velhice

o princípio e o fim

 

      serve de exemplo para todos

 

 

***

 

 

   nascemos nesta forma humana

   que é para nós fonte de alegria

 

      que alegria maior além da nossa concepção

      saber que o que está agora sob forma humana

      pode sofrer transições sem fim

      tendo apenas o infinito por limite

 

 

eis porque o sábio se alegra

com aquilo que não se pode perder

e que dura para sempre

 

 

***

 

 

o tao

tem realidade interior

e substância

 

é desprovido de acção

e de forma

 

pode ser dado

mas não recebido

 

é atingível

mas invisível

 

é a sua própria

fonte e raiz

 

existia antes do céu e da terra

e por toda a eternidade

 

faz com que os espíritos

e os deuses sejam divinos

 

criou o céu e a terra

 

nasceu antes

do céu e da terra

 

 

***

 

 

nascemos no tempo devido

e morremos

de acordo com a natureza

 

 

satisfeito com a vinda das coisas

                      no tempo devido

                 e vivendo segundo o tao

                 a alegria e a tristeza

                       não me afectam

 

 

a isto se chama segundo os antigos

estar livre da escravatura

 

 

há os que não se podem livrar da escravatura

por viverem prisioneiros da existência material

 

mas o homem tem cedido sempre perante deus

 

por que deverei eu incomodar-me

 

 

***

 

 

todos nós falamos do eu

 

como sabemos o que é esse eu

                                          de que falamos

 

      se tu sonhares que és uma ave

      vaguearás pelos céus

 

      se sonhares que és um peixe

      mergulharás nas profundezas do oceano

 

mas não podemos dizer

enquanto falamos

se estamos acordados ou a sonhar

 

 

um homem sente uma sensação agradável

antes de sorrir e sorri antes de pensar que deve sorrir

 

 

renuncia à sequência das coisas

esquece as mudanças

deixa que as coisas sigam o seu curso natural

e assim poderás entrar no mistério da unidade

 

 

***

 

 

yen hui disse a confúcio

 

estou a progredir

 

 

confúcio disse

 

como assim

 

 

yen hui respondeu

 

fico sentado e esqueço

 

confúcio disse com espanto

 

o que queres dizer com ficar sentado e esquecer

 

yen hui disse

 

libertei-me do meu corpo

descartei qualquer intenção de conhecer

 

tendo-me libertado do meu corpo

e da minha mente

tornei-me um com o infinito

 

é isto o que quero dizer

com ficar sentado e esquecer

 

 

confúcio disse

 

quando há comunhão

não há preferência

quando há mudança

não há consciência

 

talvez tu sejas

um homem prudente

um verdadeiro sábio

 

se alcançaste o que dizes

permite que seja teu discípulo

 

 

***

 

 

tse yu e tse sang eram amigos

certa vez que tinha chovido

com abundância durante dez dias

tse yu disse

 

tse sang está doente

ou a passar um mau bocado

 

empacotou alguns alimentos e foi vê-lo

 

chegando à porta

   ouviu algo que lembrava

      o choro e o canto acompanhado

         pelo som de um instrumento de corda

               com as seguintes palavras

ó pai        ó mãe        foi devido a deus         foi devido ao homem        é isto o mundo

 

a sua voz era entrecortada

e as suas palavras vacilantes

 

 

tse yu entrou e perguntou

 

por que cantas deste modo

 

 

tse sang disse

 

  eu procurava pensar

    no que me poderia ter

        trazido a tal descalabro

            mas não encontro explicação

 

                      meu pai e minha mãe

                     dificilmente desejariam

            que eu fosse assim tão pobre

 

o céu tudo cobre igualitariamente

a terra do mesmo

modo tudo suporta

 

qual o motivo de ser assim tão pobre

de quem é a responsabilidade

 

eu estava a tentar descobrir a causa de tal desgraça

mas sem sucesso

 

aqui estou nesta vida ruinosa

 

 

deve ser o destino

 

 

***

 

 

tien ken vagueava

pela encosta ensolarada

do monte yin

 

            quando chegou ao rio liao

            encontrou um sábio sem-nome

            a quem pediu

 

por favor explica-me como governar o mundo

 

 

o sábio sem-nome

respondeu

 

sai já daqui louco

    como podes fazer

       uma pergunta tão horrível

 

estou prestes a juntar-me ao criador das coisas

 

quando me sinto oprimido

monto o pássaro da plenitude e do vazio

para além das seis direcções

e vagueio na terra de parte-nenhuma

e moro no domínio de nenhuma-coisa

 

por que é que me incomodas

com perguntas como essa

 

 

tien ken perguntou de novo

e desta vez o sábio respondeu

 

deixa que o teu coração

e a tua mente

vagabundeiem

no que é puro e simples

 

sê um com o infinito

 

permite que todas as coisas

sigam o seu rumo natural

não procures a inteligência

 

assim o mundo será governado

 

 

***

 

 

não abras a tua porta

                            à fama

 

não faças

            planos

 

não te absorvas

                    em actividades

tentando carregar

os deveres do mundo

 

 

não tenhas mestre

 

não penses que sabes

 

fica consciente

de tudo o que existe

e vive no infinito

 

que o teu corpo seja o infinito

 

segue o trilho do nada possuir

 

sê tudo o que o céu te deu

mas comporta-te

como se não tivesses

recebido nada

 

não busques o lucro

 

sê vazio

isso é tudo

 

 

a mente do sábio

é como um espelho

não apanha nada

nada espera

reflecte

mas não segura

 

 

por isso o homem

perfeito age sem esforço

 

 

 

***


 Versão livre dos Capítulos Interiores de Chuang Tse


***



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