incendeio-me
nos campos rodeados por sebes derrubadas
em
cada árvore um amor antigo um quadro
pintado com a voracidade de artista embriagado
no
poço seco e na penumbra dos séculos as ninfas que faço e desfaço no torpor da
mente vertiginosa
o
sol nasce o rio corre as amarras estremecem com o sudoeste
nem
no sexo há balanço como este no corpo a corpo do meu barco tempestade em que me trespasso das ninfas o compasso
arrasto
a língua pela tua taça
bebo
de teu vinho o teu mosto
o
licor desse gosto infinito
quero
que sejas rio o estuário sem
sossego das barcas encantadas que sejas o luar dócil e mavioso nas cristas a
brilhar que sejas mar e maresia o batel
encantado que sejas dor quente e forte como o amor que sejas vida que sejas
morte que sejas tudo
porque
alma como a minha não aceita não caminha lado a lado com amor a outros dado
o
meu corpo cola-se ao teu foram
moldados juntos
colam-se
tantas árvores despidas na paisagem
tantas mulheres na vida encarceradas
e eu que sem ti amada
já sou
nada
mas agora
forte
decidido absorto
agora
olho
as formas do teu corpo
a boca lhe abro
a rosa lhe desfolho
a ameixa mexe-se nas pernas tão redondas
e lisas amendoadas
retorno à tua boca ao céu molhado
às ancas e ao centro do corpo
majestade nupcial no nó das cinturas
momentos de movimento na vulva que se
abre ao som das nuvens
aqui estou duro e entorpecido
nado
no teu corpo
na
tua alma
e
voo contigo no teu espírito maduro
nesse
mar de calma
chamas
e
abrigo
corpo
suculento que me inebria e se compraz na minha solidão que é haste apetecida
que é vida vulcão erupção em
erecção
dez
horas da noite à porta do palácio o som do ciúme da vergasta da raiva da honra
ferida
no
quarto dos fundos outra deitada
recordo
os anos nos teus abraços os afagos as promessas a violência das palavras e
a ternura o prazer a loucura a aurora e a fadiga
as
tuas coxas os gemidos o amor da tua língua
dizias
ser o amor da tua
vida
no
corpo novo que conheci tão perfeito e apetecível
traição
mirrou-se-me o membro
cresce-me o sentimento
da culpa comprometida
pecado contra ti cometido
dedos
braços
pernas
sexos
abundam
abraços
beijos
movimentos
da vagina
pénis
dos seios
erectos
corpos
vivos de uma vez modelados pelo
prazer abençoados
abriu-se
a flor
na boca do corpo
feroz
o tacto
na carne a dor
no
espelho doirado
a imagem do amor
no
leito virgem
o âmbar sangrado
pelo
dedo penetrado
de virgem com virgem
deitado
e
desse acto dessa
posse
incompleto
ter
o menino fez-se
homem
a donzela fez-se
mulher
não
sei porque assim sou animal
extraviado por fêmeas desejado macho
de mil camas dez mil intentos e outros
tantos desejos ventos e talentos vaivém
de prazeres prados e lamas
raio
de luar a penetrar vulvas o
adultério em tardes fulvas sem que saiba ou queira saber o que é esse mistério o
que é amar feliz e liberto é-se a
foder
fiquei ali parado
tão quedo e
sensível
por essas dunas
encantado
a
meio da noite ela veio trazia nos
dedos esguios
o
som do mar nas noites de invernia
os
corpos nus a
palpitação dos sexo
no coração
da maresia
um
beijo no céu da boca outro no ombro despido um outro no mamilo outro que desce
ao umbigo que rompe a fissura da chama roço que a vagina clama
às
vezes e são muitas fujo ao amor nem a memória dele quero o vestido rasgado nas ancas nuas o
coração nem longe nem perto o prazer
num princípio sem fim os nossos
corpos em desordem à beira do precipício
entra no meu corpo
eu entro no teu
a alma que é tua
ocupa o lugar da
minha
a minha essa
ocupa da tua o espaço
aperta-me isso
assim
sê em mim
o veado hasteado
preso ao laço
que me guarda o
eterno abraço
penetro-te e peço que me olhes
olhar aberto
ao movimento do sexo erecto
o
vosso beijo na cama desfeita eleva aos céus a boca os lábios e cristalina saliva
de quem homem não quer e no mais puro amor encontra o afecto e a doçura que o
simples coito não tem tamanho
prazer a que assisto
que
poderei eu fazer
isso fode-me
não
pares continua comigo
tenho
fome tenho sede
não
me deixes nunca
leva-me
contigo
são
três as graças com as três sonho às três quero
no
sono com as três me deito com as três me deleito
as
três lavro pedaço a pedaço mas desperto e nada faço
lamento
e choro
por ter acordado
quase nua ao piano
tocas aquela melodia
que não nos cansa
e que é diferente
a cada novo dia
quando páras
recomeçamos no passado
vário no presente
e a cada momento que foge
vejo e sinto que o fruto amado
nunca é o mesmo
nem o foi ontem
não o é hoje
nem o será para sempre
nesta
noite de luar obsceno
invento-te
as linhas as formas as cores
nas
minhas mãos prazer e dores
as
minhas pernas as tuas apertam o meu
sexo penetra-te deslizando pelas formas erectas dessa porta que limpa de toda a sujidade ilumina o
corpo e me transforma na mais alta potestade
há
uma vida e duas canções canção do
amor e a da paz hoje quero-te como
amante pele contra pele mãos nas
mãos e teu corpo vivo em flor
a renascer a cada
orgasmo
imprudente
entrego-me não estou confiante nem
indiferente quero-te envolvo-me no teu perfume antigo e no
cálice dos teus beijos todo eu sou
tu movo-me com a doçura de uma
serpente pecaminosa o meu corpo lavo
nas tuas abstergentes partes e sem que o saiba teu escravo sou
pernas que se abrem
os cotovelos
roçam os lençóis brancos
mãos dadas
os longos cabelos suados
das axilas um fogo cálido
um sexo molhado
uma romã
orvalho que nu
veste a haste dura
olhos
negros
de
estudante
no
teu colo
o
sol nascente
na
minha mente
o
mistério do prazer passado
beijo
sangrento
escultural
pecado
de bruços
tu
a desejada
de joelhos
eu
o desejo
olho e vejo
o sabre
que desliza
no templo
orvalhado
estremeces
contínuos ais
gemes
e pedes mais
sentas-te
no sótão o sexo despido olhaste
para o lado onde o vestido caído clamava urgente pela minha presença
amo-te quero-te mas
deixa
deixa que estou doente
nos céus a escuridão do vazio
tua casa silente em chamas
um bote passa no rio
cavalgando limos dourados
noite de todos os pecados
num sexo que aquece
ao frio
noite de amor
na solidão em que
te amas
repara
como eu te reparo sufoca-me o
peito
a
respiração não penso sou carne
o
espírito morreu na ameia dos teus seios
e
não há culpa ou pecado na ausência da razão
porque quando os corpos falam
as palavras não têm significado
quando
nas
mãos te tenho
te
beijo
te
penetro
e
teu olhar vejo
com
tanto desejo
por
ti
outra
aguardo
nas
lágrimas de seiva
do
meu corpo
faminto
alimento
da
alma
que
o anima
e
se neste dia
o
digo
que
às duas vos quero
como
a mais ninguém
olhando
para o passado
já
morto
é
certa prova
de
que vos não minto
de
tanto vos querer bem
com as duas me deito
as duas exploro
homem de uma só mulher
não é homem
é manso touro
na arena a morrer
sem conhecer o vero prazer
de múltiplo orgasmo
mito
que o mundo nega
inveracidade de eunucos
que nunca irão conhecer
a mais pura realidade
no gelo
daquela cidade
nórdica
vossos cabelos
loiros
vestem deslumbrados
os sexos despidos
brilhantes molhados
doces e brandos
a tolherem-me a
visão
quero-vos
tanto que se vos vejo nessa lânguida posição mais vos quero mais vos desejo
às
duas à minha mão
um beijo tão
profundo e prolongado
só tem continuidade
e vida
se tiver por
essência o sabor do pecado
mergulho no teu ser alado no jardim as estátuas mudas os buxos
calados
afagas-me o membro sorves-me o líquido da
vida o éter do espírito vivificado
estou junto de ti
colunas de braços suados
os lençóis em pedaços
rasgados à fúria
de todos os momentos
em que renasço
ao teu
abraço
o
esperma que te escorre da boca faz-te mais bela não que o não sejas mas torna-te mais tu
imagem
que reflectes nos céus de teus lábios
língua
rasgada com as unhas
vinho
nascido das faces rosadas
mel
que sorves espasmo após espasmo em múltiplo orgasmo
a
cada instante renovado
chovia
tu
molhada
a
roupa colada ao corpo
deitada
a
cada golfada
de
água
mais
se adivinhava
uma
beleza
suave
e mestiça
já
não sei
se
te prefiro nua
ou
vestida
sem saber onde ir
bati à tua porta
recebeste-me de rede vestida
provocadora na lascívia
parecias uma prostituta
das da noite não do dia
das que vagueiam pelas ruas
desertas e frias
à espera do cliente que tarda
do marido mal-amado
que à mulher engana
e por ti é enganado
no orgasmo que finges
e é cena de teatro
que eu seja
leda
o cisne
que te penetra
abre-te
para mim
ave alada
recebe o meu
sémen
no teu colo
e que desse acto
nasça o filho
a criança desejada
pouco importando
se morro cantando
depois de ter amado
cravo
as mãos no teu corpo e a exaltação consome-me mesmo na pedra fria o sol nasce no teu sono profundo a noite foi longa como breve momento
eu
ainda acordado acaricio-te o cabelo
o tempo passa tão depressa a
vida são dois dias quase sempre
dor
envelhecemos
a fazer amor
para
que quero eu conhecimento
a
erudição é nada o teu corpo tudo
as
montanhas do medo estão longe e as túlipas não nascem nos canteiros sóbrios das
divindades
há
castelos que se avizinham ermos que
se amotinam
os
pântanos amealham o padecimento dos exércitos vencidos no horizonte o sol esbraceja sobre uma
coluna de cedros do líbano
esquece
tudo
quero
o teu corpo e nada mais
o
teu corpo e vinho
que
seja esse o meu caminho
da
vida o meu sentido
gosto
tanto sempre gostei
de
vos ver brincar nuas na floresta
os
corpos brancos de amor nascente
os
alegres afectos de amor inocente
os
gritos abafados as palavras ditas em inefável surdina
dedos
que se tocam corpos que se enlaçam
bocas
que se mordem brisas que consentem
parto
e na ausência do teu aroma a viagem é penitência de solidão do amante que sem
amada já sem alma sem nada outra mulher não quer em noite ociosa sem virilidade
os corpos
revoltos
as bocas
mordidas
os sexos
as virilhas
odor
a canela
o sabor
da madrugada
as lianas
o grito
das hienas
e dos chacais
os lábios
famintos
sôfregos
de um sorriso
o fogo
que o coração
ateia
a paixão
do sangue
em ebulição
os lençóis
frios
o prazer
deslumbrado
à palavra
amor
a égua
que corre
no prado azul
a espada
que rasga
o fundo da dor
que a esquece
e com raiva
lambe
beija
e morde
o medo
do pecado
e eleva
pénis
e vagina
ao reino
do iluminado
esse teu desejo tão
belo tão bonito
dá-me tua mão
sedenta
deixa que te mostre
o infinito
era eu
tu
e ela
tu eras eu
eu ela e tu
ela tu e eu
pedaço a pedaço
violado
construímos
o vício
a volúpia
o falso-pecado
com
os lábios
em
chama
e
o coração
silente
elevo
o desejo
ao
cume ardente
não
te vistas dorme nua liberta-te
égua incerta
a
romã da planície não olvida que a loucura que se acende sendo muda não te
renega
tudo
é terra os cabelos negros sobre os
ombros os espasmos das coxas no
pénis que te invade o gozo das
veias a vertigem do flanco rasgado a maresia do anseio e o teu cheiro que
sobe pelos dedos acidulados
bebo-te
e nado no teu seio
invoco da vitória
o suco do clitóris
e da vagina
o doce suor
a
pouco e pouco incendeio o dossel
ateio o fogo aos sulcos de lava
enterro no teu corpo o punhal de esmeraldas que deus me deu
enfeito-te
de grinaldas são flores brancas
adormeço
como a antiga criança no laranjal
na tua boca rosada
os
teu seios tão redondos hirtos perfeitos do peito salientes nessa blusa amarela que
mostra o que esconder quer e insinua o
que desejo deixa-me na alma o rastro do que perdi e não vejo
amada o teu sangue corre nas minhas veias de
séculos
acendo
um cigarro como quem planeia viver para sempre
a
noite é longa como saudade enredada nos fios do coração a hora desperdiçada
estou
só tu para aí deitada
sonhos
que pairam nas vidraças da avenida
o quadro que vos alcança
que vossos corpos une
não é apenas madrasta arte
mas testemunho das bocas
que se escondem na noite
em ritmo de orgíaca dança
porque
te escondes
que
vergonha tens
de
teu corpo nu
que
olhos se cerram
para
a si se não verem
o
teu corpo
és
tu e teus
esses
olhos
se
outros
te
vêm
libidinosos
que
interessa
à
tua inocência
pureza
e castidade
na loucura da noite
aos dois quiseste
e dos três um
fizeste
ceptro
cingido a veludo
volúpia
dos sentidos
que
se comprimem
nos
olhos cerrados
a
tua face no pescoço dela
meu
sexo nas suas mãos
quente
sémen que se derrama
pelas
duas acariciado
que pecado pode
haver
quando dois corpos
luminosos
se abraçam beijam e
afagam
tuas
ancas coloridas nas minhas mãos doridas
tuas
nádegas e meus dedos nas coxas despertadas
transparência
de nervos ossos músculos e desejos
no
sexo desassossegado por ti subjugado
lá
fora o silêncio rumoroso dos que já não amam vagueio pelos intermináveis corredores
do quarto e transformo a sede do deserto tumefacto em orgasmo o teu corpo é feito de musgo como as
catedrais que fundem a volúpia dos ventres nas cúpulas ancestrais nas mais profundas grutas tenho-te e não
te tenho pouco é o que vejo nado na sombra da tua vagina
de
lado
boca lábios língua de menina
sugo-te
os dedos o ventre a vagina
belos
são teus olhos teus lábios
crescem
heras no teu corpo violetas nos cabelos
és
a mais antiga das novas mulheres
a
palma do mais puro anseio
a
força o veio de água que resplende
o
caminho a via do meio
primavera
de meu olhar turvo por vezes cego
se
no nevoeiro te não vejo e na noite outro me sinto
na
solidão já solto de tudo o que é amor lascívia e felicidade
morro
de dor sôfrego da palavra e do acto de amar
oitava
noite do novo ano acenderam-se os
candeeiros da rua deserta na casa
velha do beco iluminaram-se os candelabros o pénis ergueu-se escondido no cetim do
roupão a porta silenciosa o sonho daquele corpo juvenil inebriava
o espaço em suspensão as horas
derrapavam no sino da torre o
pénis erecto cansou-se as
pálpebras vermelhas cerraram-se na visão do encantamento
sono sonho por momentos acordado
sono sonho enjeitado
quando o cansaço vier
no teu corpo ainda quente
e a arrefecer
irei aguardar que
no ventre gelado
poisemos nossos dedos
vivos como sempre
mais
toca-me
fundo
vá
manso
e mudo
depõe
um beijo
profundo
no
trilho
que
te abro
beija-me
a
boca faminta
sacia-me
os
desejos febris
bebe-me
o
corpo inteiro
a
chama
do
sagrado
o
elixir dos anjos
mais
mais
fundo
sangra-me
com
teu punhal
enche-me
de vinho
e
deixa
que
com raiva e amor
por
toda a parte
meu
grito se oiça
veio
o vento com os seus dedos delgados enfunar as velas dos destroços no poço os corpos nus acariciados pela
brisa quente que o amor liberta todo o fim de tarde
a
minha mão na tua
mar
que se insinua
se
solta se desprende
no
costado do teu ser
cobiçoso
e cobiçado
saberás quanto te amo
quantos beijos deponho no leito desfeito
quantas lágrimas verto no meu peito
o
ócio dos odores que percorre o ventre do vestido nu o sabor das pregas do lençol a que me
entrego na sede de teu corpo ausente a sombra táctil desse elemento que me não
consentes invocação de duro lamento
foste
a mulher de meus dias a ilusão tardia a insónia das noites na esperança que se
esvazia
amanhã
virás mais não conheço que teus
olhos
azuis
adiamantados não sei quem és quem
foste mas serás com ou sem corpo na
ausência ou presente no espírito e na alma a novíssima amante
na tua boca o sabor
dos mirtilos e do
gozo
não é isso o amor
deito-me
contigo cansado do mundo entrego-te tudo entrego-me a mim deito os meus olhos
ao céu
caio
no meio das tuas pernas destapo-te liberto-te do véu
despida com o ardor da chama e a dor da lenha desfloro-te
na cama quente de sangue
a
boca dorida de tantos beijos a vertigem dos teus seios despes-me o olhar separas
as línguas invades-me como onda no mar
tuas
mãos de saliva no meu dorso doce
sensação que me percorre absorve e prende à vida
gritam os sentidos à
aurora
ponho uma venda azul
junto as cinturas num
anel
que se não sente nem
é de gente
as
tuas próprias mãos transfiguram o delubro do desejo
quando
te amas e assim lasciva te vejo mesmo que o digam sem jeito ou nexo
jorram lágrimas
do meu sexo
muitas te envolvem te
beijam
saliva derramada em
húmido canto
um beijo é sempre
santo
o
grito dos sentidos das palavras impensadas
do
corpo em chamas nascem aromas
sémen
de rosmaninho de razões despido
a uma penetro
a outra
a vagina acaricio
e grito amor
quero sexo
não quero amar
não quero dor
deitas-te contorces-te prendes as tuas próprias pernas elevas-te sentes-me e em espasmo incandescente gritas
ais e quase em surdina
dizes
quero
mais
mais
o hálito quente nas
coxas
a palavra que me
desmente
só tu existes somente
o
banco de granito envelhece na casa antiga hoje em ruínas
envelhecemos
ao ritmo da memória que se afunda nas ervas aquáticas do ribeiro
já
não despimos os anjos mostrando-lhes as vergonhas inexistentes
tremem-nos
os dedos
não
construímos mais palavras de sémen naquela paixão íngreme do vale alimentado
por mansos pinheirais
o
verão é o inferno da lavoura do
sexo não
és pedra és rio és mar
és o nascente que
se aparta
e que no todo me
aguarda
seguras-me
o pénis com aquele especial jeito que o encaminha para as fissuras do medo a essência das fossas abismais silêncio que envolve membros
descarnados beijos onde
tropeço as emoções que
esqueço sinto-te incendiada ao
sabor de eva e odor de adão provando de ti os lábios sedentos na maçã do
orgasmo vivo está o pecado
original
o
lume da vagina no gemido do mundo
espaço circunspecto da alma perdida caio de bruços ajoelho e desfaleço
o
amor desfaço
oh verdes olhos da mestiçagem
mãos renascidas ao medo da aragem
espectros famélicos da puberdade
longe de ti
das florestas tropicais
onde pássaros azuis esvoaçam
e multiplicam
a beleza da criação
lembro
o dia à beira do lago os limos
acesos na névoa que branda descia sobre as quietas esmeraldas aquáticas devastação do prazer
o
sufoco febril
na
agonia do amor
a
morrer
nos
umbrais da tua boca
o
peso vegetal dos teus ombros sobre o meu peito
um
seio na palma da mão
os
dedos no sentido inverso ao eco do teu gemido
abraça-me docemente
como
quem embala a criança divina e de seda pura a veste
adormeço na cúpula do tempo
ao som da harpa campestre
nos
corredores do velho palácio
tão
belos os amantes nus
apaixonados
um
amor tão vivo fogo inflamado
um
olhar tão esperançado
na
certeza de que a morte
nunca
o verá apagado
do teu corpo
mulher
é essa
a única porta
que não conheço
dormes
noite quente de verão
a
janela aberta
a um amante a deus
ao
coração ausente
do que não vem
nunca
chega
quem queremos
o
mundo é amargo
madrasta solidão
e por cada mulher
que sofre
vai perdendo a sua
razão
mais não dá
criatura do passado
amei-te tanto
tanto como a
nenhuma
agora
não sei
tudo é triste o tédio invade-me
quero-te e não te
quero
sei que o sentes
quando contigo me
deito
não há outra não há uma
e por estranho que
pareça
ainda é a ti que
amo
nas
praias desertas os corpos nus das mulheres transformam-se em sereias
despertas
ao canto dos pássaros
fizemos
amor na noite clara
tens
a pele levemente suada
a
camisa descomposta e perfumada
incenso
do sexo nuvem profunda
vontade
que te mina e a mim se alastra
preparas-te lá fora é grande a borrasca a neve cai nas fragas enche os campos de
branco e transforma homens em anjos
sabes
que virei vergado ao vento e à tempestade enlouquecido pelo amor ao som de
bandolins e banjos cercado por querubins e arcanjos
somos
místicos
a
noite será nossa a música das
esferas rondará os ares e perfumará a espera
sabes
que virei
outra
não tenho outra não quero
apenas
eu e tu amor meu
se o sabes
porque perguntas
nesse corpo seminu
porque pedes e me feres
ao espelho que te diga
se outra há
mais bela do que tu
verdes
os teus olhos
no
azul das minhas mãos
arvorado
te penetro
perco-me
no teu coração
suo
grito e emudeço
lambe-me o sexo
vira-me do avesso
despe-me a alma
mata em mim o humano
acaricia-me o peito
inunda-me com o teu cheiro
rasga-me os sentidos
oferta-me teus orgasmos
que morrem pela mão da madrugada
quando exaustos e de uma só vez
adormecemos num mar de esperma
a suco de saliva arado
hoje fizemos amor
para sempre na
carne
do acto de amor
fazer
os estilhaços
cravados
parto
e na memória guardo o suor das catedrais
os
uivos os ais
longínquos
das estradas desertas das avenidas das capitais
de
tantas camas tantos feitos pecados veniais
tantos
seios vaginas peitos tantos sátiros tantas ninfas
tantos sonhos
desfeitos
tens nos olhos e na
língua
a certeza de que o
corpo
mais que razão é
sentidos
olhas-me
com
esse olhar
que
tanto ama
como
mata
mostrando-me
na
mão direita
o
que usaste
na
minha falta
este
medo que insufla os dias é o segredo que aguardo
ansioso na solidão da tua partida e que morre quando
tornas e nua te ponho e nua te entregas às minhas mãos razão de meu sonho
ergo-me na noite e canto
ao
vento que sibila nas acácias
ao lume que crepita na lareira
à ausência do teu corpo
e sonho
com os espasmos
do último encontro
a seiva das rosas
naquela proa firme
alumia
a espuma branca
dos lábios abertos
ao nascer do dia
a
ferro e fogo te penetro te lambo
para
a vida te desperto
gosto
quando devagar
te mexo
no ponto certo
no sítio teu
gosto dessa
chama
que se abre
à exaustão
fogo
posto
no vulcão
que das tuas pernas
nasce
quando o toca
pequeno vulto
que cresce
e me
ampara
quando
o dia morrer nas pétalas floridas das roseiras beijaremos as mãos geladas dos
salgueiros vergados à loucura da noite
naquela
manhã o clitóris estava tenso aos dedos ainda dormentes
nos
lençóis de algodão os pesadelos da solidão
na
mesa de cabeceira uma espiga doirada vibrava
e
mais se agitava na vagina sedenta que a aguardava
a
fome dos seus dedos o amante
indiferente
que não veio nem
vem
cama que range
corpo sofrido
orgasmo que se
abstém
de
ti bebo o vinho o suor as lágrimas o sal o líquido que escorre em aroma de pinho
desassossegado
de pé aguardo a tua vinda o teu cheiro
teu vinho teu pecado
liberto
os olhos ao horizonte se fui já
não sou de vistas curtas vida de
putas que se acaba
terei
de escolher cedo ou tarde
amor
que me cerre a fronte
palavras
de sexo vertidas em taça de punhal são grinaldas de passos a percorrer os
pulmões dos caminhos
lentidão
da língua ao sabor meigo do corpo
gozo
súbito na boca que se aquece poço
sem fundo fruta doce gomo que se afunda nesse regaço nessa gruta
naquela noite
os dois lado a lado
o céu da terra
aliado
amo-te
tenho
sede do sangue que se transforma se desmanda se rompe e se exaure na aurora
sinto-me tão
cansado
as moscas a fazer
amor
e eu para aqui
sentado
sem vontade nesta
dor
e
se assim te tenho
assim
gosto de te ter
tanto
que
o meu pénis
sempre
cresce
banhado
pelo teu pranto
na lentidão do tempo
convoco o hálito do teu corpo
e o sorriso fugaz das tuas coxas
dedos
nas pernas nas nádegas na vagina
sonho contigo
edifícios
que morrem na cidade
mãos
que desfalecem com a idade
corpo
iluminado que da penetração prescinde e que a cada palavra ao ouvido dita da
matéria faz alma e espasmo a espasmo sobe ao paraíso
no
inverno o corpo é lareira as formas do fumo que sobe na escuridão da aldeia
o
lume na braseira calor que foge
as
tuas pernas nas minhas
no
pijama sémen que
escorre
cortaram-te
o cabelo mesmo amputada creio em
ti como se crê num deus imemorial
pareces-me
um rapazinho imberbe
mas
és tu inamovível
nua
de pernas ansiadas
a
carne dura de granito cinzelado
ponho-me
de joelhos beijo-te e rezo ao sexo
azul celeste
enleio-me
nos teus pés
a
alma repartida em pedaços de pão
nas mãos que te dividem
os segredos do corpo
abrem-se as portas
que me extasiam
foder com uma duas
ou três
sufocar de prazer
matar o desejo a dor
morrer de amor
as
formas da água no linho
do leito
desejo
que em pedaços agora jaz
desfeito
um
fio de sangue no lugar
do peito
lençóis
em alvoroço onde meiga a
deitas
adormeces
nua tua pele na
dela
a
dela na tua do sonho desfeito
sendo certo que
esse corpo
teu não é mas dela
sem desejo falo-te do meu desejo
deprimido a razão sem sentido
a
vontade morta do corpo inerte
falo-te
do que senti tua ternura teus abraços
das
tuas pernas os laços de teus lábios o
mel
e das contracções vaginais
os uis
os ais
os gritos
os salpicos
do
esperma espalhado no teu ventre aguado
falo-te de tudo e do nada
do que amo e amei
do
que hoje sou pobre amante
o degredado
nos meus dedos o
cuspo que te molha o sexo
caem as horas no
teu corpo
lusco-fusco de
borco
a
noite é viciosa
como rio de orvalho branco
que te inunda as palmas da mão
a noite é escura
como o deus que procuras
na nutação em que me sepultas
o
paladar do destino na casa verde do lago
hino
que o corpo canta e a alma encanta
cabelos
negros ciganos viajados
de
mãos nas mãos tocados por tantos
estranhos no perfume dos crepúsculos
róseos sedosos maduros
para
mim os únicos
liberta-os
ao som do vento
ilumina
o candelabro de nove braços
e
de bruços com esse teu jeito
sorve-me
o alento
beija-me
o peito
o
desejo ferve no canavial lume na ínsua do coração
a
palavra que se não diz nuvem que se espalha na mortalha da razão
florescem
os sentidos nos ciprestes milenares
do gozo
da morte
da vida
e eu grito
estremeço
transcendo tempo
e num lamento
apunhalo o espaço
penetro o infinito
sou
toda tua dizes
faz
de mim o que quiseres
faço
de ti o que quero
faço
de ti o que queres
balbucias palavras que desconheço
tocas o teu corpo com lascívia
o meu membro não te basta
tudo em ti é flor que nasce
prazer que sempre renasce
no viçoso fim de tarde
nado
no teu corpo alagado
na
esmeralda do desejo contido
e
pouco a pouco
desperto
o sentido
que
molha a pele
que
te fala ao ouvido
e
abre com doçura
o
teu sexo escondido
gosto quando me
pedes
não páres quero mais
gosto quando me
dizes
vem a noite é minha
de ti não sinto nojo
em tudo que faço
e o que faço de ti
se só a ti te aproveita
por mim o faço
e por fim
no laço da união
se te deito te beijo
te
abraço
te digo te amo
te entrego do amor
a lança
choro de alegria
sinto-me criança
três
são os deuses que vejo três os
prazeres terrenos que fruo três
constroem beijo a beijo o encantamento da noite
escorre
o suor nos corpos em vibração
por trás
te abraço
te amo
te desfaço
na excitação
todo me tomas
e sem que saiba porquê
pela flor de teus olhos
sou penetrado
o
calor do amor arroubo interior hinos selváticos canções de fogo nas estrelas cadentes
tu
és o meu refúgio nesta quietude da noite que permanece
astros
pendentes no lume extático que arrefece
a
embriaguez do meu peito que rasga teus impérios e fortalezas
o
veneno do meu membro em doce aroma
golpe
nos seios de neve que se mantêm erectos
em
dúvidas e cuidados de medos e fados
os agrestes momentos
não
temas és
minha
sou
mágico retardarei o fim dos
tempos
ficas
excitada
as
tuas costas no meu peito
desliza o meu pénis
na tua vagina
onde desperta para
a vida
o único movimento
neste mundo
julgado perfeito
como
de lança sangrante
em
ferida de mágoa nasce o prazer
desse
modo te firo e ouço dizer
é
tão bom que até faz doer
como estão
longínquas
as palmeiras
que tua seiva
absorvem
nesse amar inocente
a quem seu corpo
basta
frémito langor
carícia
escondida em curta
veste
que tanta saudade
liberta
por terras e mares
por humanos
nunca pisadas
nem navegados
os
teus lábios tua dádiva nas mãos
lentas da incerteza ajoelhada na macia nudez
dos dedos
confessas-te
molhada rosa das rosas
e
ao meu tacto pelo caminho esguio e menos recto se entorpece aos poucos tua
vagina de menina
fecho-te
os olhos abro-te o vestido
noite
escura
nos
ares o
aroma do pinho
imergimos no mesmo vinho
deixem não se atravessem no meu caminho
deus
não existe e se existe pouco se importa comigo porque está doente ou enfadado
a
noite debruça-se no leito e tu perguntas ansiosa pelo teu amigo
na
janela a jarra de flores de rosmaninho e a fotografia do falecido com a palma
feérica na mão esquerda tão novo
coitado tristes são as guerras
o
coração direito ferido
abraço-te saro-te a ferida viro-te
e
por trás
te
acaricio te consolo
amordaço
e liberto teu cio
os teus cabelos são
o mel
onde afundo a minha
gula
os
anjos também amam olhar profundo mãos dadas tão doces e delicadas
divina
oração em dedos de luar
tantas deus meu
são tantas as que
amei
e se de tanto
prazer vivi
donde vem este
sofrer
se
é isso que queres
se
a beleza guardas para ti
não
te condeno
talvez
quem mais ama
seja
quem se ama a si
demoro-me
no acto de amor fazer a primavera
desperta lentamente e as mesmas flores de antigamente demoram a florescer curva-se o corpo suado ao prazer os orgasmos sucedem-se o meu guardo-o ciosamente para que
momento a momento tarde noite manhã possa escutar teus gemidos alcançar os teus
espasmos deslizando por ti na rosa dos dias até que o cansaço vença o furor do
sabre empunhado ao cintilar das constelações naquele sabor de sal florente que
só aos amantes é dado ter
afinal
o orgasmo é parte ínfima de extenso gozo celestial
é
azul
tudo
o que amo
azul
o céu
azul
o mar
olhar
azul
gestos
índigo
anil
de luar
no
azul que digo
ao meu cheiro
a mão no teu seio
antes que te toque
e te penetre
vens-te primeiro
o
hotel vazio nus na piscina interior só nós o teu corpo à superfície em
provocação justo plâncton da
mocidade
sucumbi
às tuas formas na tentação sem medida
enleei-te
e na água morna de tua fonte bebi até à exaustão
não esqueço esse dia
ela
veio com a sua sombra
despiu-se
vagarosamente as suas pegadas
mostraram-me o caminho para o êxtase da noite queria carinho a afeição de um beijo
prolongado e um pouco de sexo não
tirou os brincos de jade os seios
tensos manchados de lágrimas
esquece
a paixão é cruel o amor no dia que
finda
a
meio da noite com os vestígios do prazer em subtis escorrências ergo-me do
leito
um
morcego atravessa o negrume alheio aos meus mais ignóbeis sentimentos na casa em frente assanha-se uma luz
débil
na
cama em desalinho o teu sexo descoberto
outro tanto por descobrir
de leve
o poisei
nos teus lábios
com leveza
te amei
nessa tarde
punha
tirava
voltava a pôr
e a cada orgasmo
mentia
chamava-te
amor
vais
voltar a partir
os
nossos corpos uniram-se em incontáveis vezes noutras afastaram-se sem dizer adeus
tu
ias eu ficava
ou
ficávamos os dois sem dizer nada
já
são tantos os anos e dias que nossas almas não têm recantos por conhecer
agora
amamos mais logo fodemos tudo nos é permitido com amor tudo se pode fazer
entro
em ti no teu corpo casto entras em mim nas entranhas no coração no espírito
alvoraçado
subimos
ao céu ao paraíso
queres
gritar e não gritas
dou-te
a mão e por entre gemidos nascem orgasmos sucessivos
não
sossego não te deténs o gozo é tanto
que muitas vezes choras lágrimas que não são de sal de chuva mel mas do mais
belo temporal
os
corpos ascendem às cores celestes ao
azul do firmamento às nuvens brancas
e puras que aconchegam os mares do sul
e
amamos como nunca ninguém amou
sabes
maria estou certo
que
quando amamos
êxtase
perfeito
nesse
prazer tanto
modelado
ao teu corpo santo
deus
está sempre perto
vais
voltar a partir
talvez
seja assim sempre
esta
dor esta chaga que sangra lamento que oculto
e
sem ti sozinho
deus
não virá comprazer-se
com
tão divino amor e carinho
e
eu
chorarei
o caminho
pelo
fado traçado
sem
ti
sem
deus
para
aqui abandonado
são
todos esses dedos longos e distantes o néctar e o veneno dos meus dias angústia do meu ser
um
dia só deus saberá qual voltarei para os beber
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