ANTIPOESIA

ANTIPOESIA
ANTIPOESIA

quinta-feira, 8 de outubro de 2015

CANTO I - ANTIPOESIA



já não sou humano        não trago nos bolsos esfarrapados a pestilência da ganância e da hipocrisia         a camelice do povaréu        a encardida delinquência dos parlamentos e das presidências mumificadas em rituais diabólicos sempre conspurcadas pela cumplicidade dos desgovernos rocambolescos        maneirismo do século alimentado por quadrúpedes ruminantes de galhos redondos e ramosos
             
                      pertenço a outra raça          estirpe bravia em supressão
             raiz desnuda e insondada a errar pelas estepes gélidas da fome anacrónica do espírito rude e selvático

não clamarei pelo pó da esperança        
             nem pela violência sanguinária dos pássaros azuis que giram na meia-luz do logro
                                  arcanjos ultrajados
       remetidos ao limbo na resignação violenta que cresce e esfria no reflexo das amendoeiras floridas da terra descoberta

       no hálito o sabor amargo do sol que se consome no horizonte das ânsias            não
                    não erguerei as armas inflamadas
       revolvendo as estrelas chamejantes e os cometas inesperados


       quero um novo mundo sem o excremento ignóbil do poder e da injustiça        sem deuses               sem senhorios e servos da gleba


os juízos universalmente válidos          juízos eternos de quem não tem mais nada com que se desassossegar e
que consagra o seu tempo às banalidades enquanto aguarda a indeclinável morte

olho para o relógio que não tenho          está na hora de passear o indomável
                           tem as suas urgências
                                                                   mas o indomesticável já não existe
             eu não tenho relógio e as necessidades são somente minhas

ouço o relógio da torre                          basta-me
nas horas neutrais 


chega de querer ser seja o que for          o que for é sempre o que ainda não é
de contar para as estatísticas da angústia das almas sôfregas de ruído e lágrimas        mais
            
             de ser lido
             nesciamente lido
             estupidamente citado

       que venham as metafísicas
       que venham como frutos podres
       do velho abrunheiro envolto em sarças
                                               sanguinolentas
             venha a alma
             venha o deus-morto
             venham virgens intocadas
       que venha a imortalidade dos incontaminados
       que venha a razão pura dos iluminados
             e a ilusão dos moribundos
             e a raiva dos furibundos

que venha a dúvida e o escrúpulo
que venha o temor e a ousadia
                           a coragem e a cobardia
que venha a exactidão
       que exactidão pode haver para além da realidade que é apenas minha

             a cada um segundo a sua consciência
             a cada um segundo a sua realidade

             dêem-me mais um sentido
             nada ficará de pé

afinal a consciência não se julga a si e tem por maleita a fé
                    sabe o que sabe
                    e mais nada para além do que sabe

vejo com a clareza de quem vê os limites da razão
o esterco das filosofias em ruínas desmoronando-se ruidosamente no tempo e no espaço
       mas o espaço-tempo é uma propriedade da consciência          e também das coisas
             das palavras        das letras e sílabas

deus não casa com a razão
                                         nem que seja a pura


             o poeta        a flor        o corpo        a virtude        o amor
             palavras inventadas que se colam à pele adormecida
                    o agrado persistente da chuva a escorrer pelas penas da estátua e no mármore cinza dos pássaros nocturnos

       a imagem inventada de deus
                                                  ofertada à terra lustrosa da alvorada
                                  soluços e lágrimas do desejo trajado por letras de amor tão adornadas como o guardanapo bordado pela velha criada
             ou do jardim cuidado pelo jardineiro corcunda


o mundo definha nas miseráveis obscuridades
pendentes das frestas pardas dos livros vindos e  vindouros
       evocando as flores ressequidas da justiça lamacenta
       ajoelhada em aras de rostos rasgados pela putrefacção verminosa das nuvens sombrias
       tempo que se escoa pelas fendas das    ramagens sem ninhos

tão belas as aves na sua prática matutina        cantos e cantos harmonicamente sobrepostos de quem canta porque tem voz para cantar
canta porque nasceu para cantar
                                               cânticos fulgentes 


cansado desta pátria ascorosa
       
                                  mas eu não tenho pátria

       os imbecis nacionalistas
       os críticos mentecaptos
       patéticos politólogos
idiotas de pederneira crestada por reflexões ineptas sobre o arco-da-governação
             o arco-do-ladrão
                                        tocante
                                                      comovente

recapitulo os fogos ancestrais do ventre das imaculadas
diluo-me no orvalho do princípio de todas as coisas
             coisas-sem-sentido        coisas só

as noites-pontos-de-luz não deixam de ser frescas
as brisas do arcaico coração salgado enevoam o entendimento        asas de falsos-anjos sobrevoam o remorso perpétuo        olhos vagos pesadamente inclinados sobre a carne embriagada

há poetas que só falam de anjos        e que têm visões de budas excêntricos e imaginações compostas de veias floridas        querubins da cegueira
soberbos nas suas espirais místicas são os estandartes das orquídeas do pântano carmesim


             não consinto que me devorem que me                       invadam        que me usurpem
             que me digam        fim
             a disciplina partidária é para ignaros
                    sempre os ignorei
                    enoja-me a subserviência
                    o oportunismo
                    a decadência

             os abutres do lusco-fusco infernal


o sacramento da irreverência e da subversão é sempre definitivo como a velha bola de trapos da infância        tão colorida ao pôr-do-sol
            
             vi tudo o que tinha para ver
              e vivi tanto no tudo que pouco mais tenho                 para viver

na galeria norte da mansão
       livros e quadros desalinhados
a madeira envelhecida pelos
                                           relâmpagos
             regressados de viagem
na carruagem de um outro mundo
             arrefece nos fogos bravios
de mágicos ventos e bruscos pensamentos


a excelência do nada estendida no leito vago 
dormita na impensável pausa do verão impudico


             os grifos da alba
             vejo-os no demo que se ergue do forame pálido
             embuchado e ardente
             oxidado hipócrita do despertar
             mistério sujo do poema iridescente
             cínico anoitecer da geada que teima em                    não vir

             abutres-de-capuz que se transfiguram na palavra bando
maltrapilhos nascidos das entranhas da descoragem


este povo que carrega o jugo insípido da bestialidade nasceu do amor liquefeito de infelizes e enfadonhas palmas perfuradas
anojado abatido engaiolado opresso por armadura unhada a espadas cintilantes
             salpicado por gotas efémeras de arenosa                  alegria embebida no sebo da história
             falsa jovialidade amestrada
                                                      lulus de circo
                                                      engolidores de fogo-fátuo
                                                      saltimbancos do medo incandescente que floresce silente
                                                      rafeiros calvos de profanas honrarias
                    ah que gente            pategos

saio e fico-me pelo alpendre

sinto-me órfão        as formigas cercam-me enquanto morro por momentos
a morte é sempre uma dádiva na minha idade        por vezes ouço os seus ecos as pérolas das suas lamúrias a espuma branca do seu vinho
abre-me a porta do desfiladeiro
derradeiro prazer perfumado a nove das mais belas flores
morrer por instantes        para o remordimento
                     o passado      sim o passado
a voz dos mendigos dos fanáticos dos ladrões e dos assassinos do espírito


       não tenho pátria        já o disse mas nada como engrandecer a soberba que nasceu no dia em que nasci
                    este país enoja-me


                    a reminiscência
quinta do crestelo
             a noite declinou vacilante nos lenhos das árvores
             a serra era um mar amplíssimo de granito talhado por lágrimas de gelo

                                               as pedras também choram

             a primavera acoitou a neve e abriu os corações dos botões a florir
             uma borboleta perdeu-se numa pétala reluzente esculpida no seio de um sublime arbusto selvagem
o meu perfume misturou-se com o jardim de folhas frágeis e com a fragrância das águas do lago
a mãe pata e os seus três filhos exímios comedores-de-moscas percorrem-no como se dessem a volta ao mundo        um mundo melhor do que o meu
o sol iniciou o seu fantástico repouso
os animais adormeceram no regaço do luar enquanto eu submergia na insónia insensata do amor

o m tinha-me trazido um livro autografado sobre a transumância
            
descendo de pastores do sete-estrelo e dos cometas gloriosos da aurora  
tenho no sangue o aroma de todos os mares
            
             serra e mar

o largo da aldeia
rigorosamente geométrico
como a paisagem        a cândida paisagem da infância
             tão jovem
                           no frio da noite

no tecto do mundo as noites glaciais do planalto        a casa do juiz na nave da mestra        o curral dos martins
a lapa do ronca no relvão do vale do conde
o crepitar do fogo na invernia das noites de verão

o degelo
       os dedos crispados
             perfuram o silêncio
cicatrizado            a cidade com a alma queimada
       escava os passos
                    sonoros do alpendre
                          
                           na casa rosa
                                               soa um relógio
       de horas perdidas
                                  orfandade da penúria

beijo as mãos daquele lugar distante
implacável metal que lavro a sangrar com o dedos
dor de canto soluçante dos escravos acantoados em torpes porões
país de negreiros e santos adulterinos

            
             sou um novo transumante
       conheço a verdade das serranias sem gente
       dos mares sem os grandes veleiros de antanho

                    não é minha a vossa raça
cambada de imbecis        corja de cobardes        alarves de gel gerados nos leitos pútridos das cidades em escombros
                    campónios do modernismo



estou a traduzir um poeta-morto        expirou antes de ter sido inumado
pouco entendo do que escreveu        mas traduzo-o

             nem sempre
                                  as palavras
                    vivem como anjos
             nos lábios abandonados
                                                  dos poetas-mortos

na mesa circular do café dois surrealistas e um experimentalista
lá fora a correria dos operários dos bancários engravatados e outros não-sei-quê-esfaimados
             espremidos não dão nada

       nomes de poetas mortos e por morrer
       este é o meu preferido      assentimento geral
             a colagem tem sempre um limite
                  o cadáver-esquisito um fim

para mim
suicidou-se        digo
                                  mas
um poeta não se sacrifica nem se suicida
diverte-se com a poesia        com as palavras ditas e com as que ficam por dizer        palavras soltas e versos alados que permanecem por compreender

             eu não escrevo poesia
                       antipoesia

divirto-me com o sem-sentido absurdo da desconstrução poética

nãovosaconselhoaleituradosmeustextosétempoperdidomalgastocameliceavossaquaseidênticaàminhaporqueescrevoquandodeveriacalardefinitivamente
trataidosvossosfilhosolhaiporvossasfilhasenquantodormisqueéquandoasvaginasesquentaméevidentequeestaistãocansadosdemimquantoeudevósnofundoavidanãoémaisdoqueissocansaçorotinasonhoealgumsonorepletodepesadelosassombrososcuidaidevósedevossasvirtuosasmulheresemaridostantossãoossantosamadreteresaopapafranciscoquelembraopaulinhodasfeirasedosmercadosbeijosondedeveriavingaravergastatretasadoraistretasbajulaispolíticosepoderososodiaisletraseletradoseutambémapazestejaconvoscoelaestánomeiodenósdizovigáriomentirososevandijasalafrário
naovosaconselhodetodopuraperdadetempo


os homens são todos dissemelhantes e tão iguais
como andorinhas que cravam os bicos sonoros nas margens das nuvens poucos são os que suportam os naufrágios dos deuses aos ventos uivantes

o luto das mães jazentes na alma dos filhos mortos

os peitos mirrados de leite fundem-se com a fome


                    se eu pudesse
                                 
                                  cavalgar o vento
e ter-te

                    nas pontes fulgentes

                                  que construo

                    impassível
                    dócil letargia
                   
o silêncio do granito no fundo da alma

ter-te
                    dia
                    noite
                                  o teu espírito
                                  o meu corpo

             sem amantes

       tu és um deus ciumento



odeio a cidade        o betão armado        os macacos-de-azul armados
                                        fedelhos nauseabundos

       crianças algemadas simiescamente        ruas de árvores doentes e patéticas        as máscaras repugnantes de uma falsa-civilização
            
             o embuste da autoridade
             transeuntes contaminados
             a descompostura das gentes

             jurisconsultos da trampa
                                       
as árvores centenárias emudeceram        levedam peçonha nas ruínas da sanha e da avidez gerada nas crianças rebeldes eclipsadas pelo arco-íris tão íntimo à descoloração da sensatez

a cidade submerge-se nos asininos monumentos
             no cheiro pestilento dos caminhantes e no sorriso espinhoso dos turistas de marmita ao peito

       arquitectura assombrada
                    por espectros pardacentos
nacos de pão verde fundidos nas bocas perfiladas

hálito negro        dor esfarelada
                                                bolor da modernidade
             o pátio das orquídeas estuprado


havíamos subido as escadas cinzentas do conhecimento formal
             as antiguidades pagam-se à porta
numa das salas um homenzinho estilo mediterrânico olhava demoradamente um quadro desbotado
muito mais belo no meu livrinho de arte        cores vivas        contornos nítidos
ali estava embaçado
continuou a olhá-lo como se fosse uma estátua grega mutilada em eterna contemplação        colocava com seriedade as mãos no queixo curioso
             fiquei por ali
olhava o quadro        olhava-o a ele
             perdi a noção do tempo
olhava-o a olhar o quadro e o quadro a olhá-lo a ele
um van gogh em amsterdão não é diferente de um van gogh de paris ou de berlim         donde viria tal erudição        perguntava-me        o que estaria a ver a estranha personagem para além do que eu via
a cor meio-morta        a composição        melodia ou sinfonia        a pincelada enlouquecida pelos empastes do infortúnio        a alma sofrida do criador
             certamente um erudito
descemos juntos a escadaria        um amigo aguardava pacientemente        tinha o estilo próprio de uma bailarina inquieta a redemoinhar numa caixinha-de-música
num francês soariano disse        sublime
o amigo questionou-o        où aller nous
        putains
voltei ao museu
o quadro        uma contemplação de mais alguns minutos        a demanda existencial
nada        libido inalterada
       definitivamente não sou um erudito


       uma gota de água
       passos
       na pulsação
       do silêncio lunar


sem que mais além alcance
                    do musgo cravado nas paredes da colmado

                    assisto ao raiar do dia

natividade                nas tuas vísceras

             dispo-me na luz que cai oblíqua do céu
com a mesma vagareza com que fumo este cigarro que me coube em sorte

                    altas horas
                                     escrevo
                                                a palavra
                                                             rosa

e renovo
             rosa

                           tantas vezes
                           que rosa
                                               deixou de ser uma flor

             e passou a ser uma palavra única da minha

             arte
                    inútil
de
                           poeta


o poema pode ser visto
forma colorida sem conteúdo
tal flor esvaziada da sua corola
       pode ler-se
                       e ouvir-se
                                     
                                        construir-se

milimetricamente como as crianças obram castelos nas contentes dunas da infância

       comprimir-se na medida dos nossos intentos

                    adivinhar-se
                                       expor-se
                    ou                              esconder-se
                           calar-se


poemas experimentais
a inconsciência da prosa nublada por brumas poéticas        bárbaro
novas-velhas formas de dizer um poema no vazio
pausa                                                            mudez


vanguardas        toujours les avant-gardes
provocação constante ao palpável
       à convenção

                    o prazer da criação
                    de não ser lido
                                          compreendido
                                                    comprometido

com valores e imperativos éticos

                    o desvalor da normatividade

livre
       liberto
               até à destruição total
revolução integral em explosão interior

             orgasmo de palavras
                    sílabas
letras em suspensão no espaço-tempo


             penetro o âmago da criação
             miscelânea de elementos

                          caos

             na exclusão confinada de todos os ditames
             lógicos ou absurdos
             temperados por uma razão obsoleta

liberdade        imaginação que transcende os limites do universo observável
             excelsa            imperscrutável
                           ilimitada

destruição de todas as crenças        valores        grandezas        rigores estéticos
             o óbito das instituições
             derrubados os regimes
             os muros das prisões
             templos e altares
um crematório para a governação
igrejas políticos e outros falsários e ladrões

       sacerdotes e filósofos espraiados pelas morgues
       juízes políticos e salteadores
                                                  crucificados
diga-o pôncio pilatos

mórbido e agradável aos sentidos


             liberdade         liberdade
                           o grito

             poema-sem-regras
             poema-de-ocasião
             poema-sem-razão
                                         ou sentido
antipoema de quatro dimensões
             insubordinação        que feneça a tradição
futurista      surrealista      concreto-experimentalista      visualista
                                               apenas negativista
       o poeta é poeta na antipoesia na orgia de frases e de palavras aladas

             pertenço à raça dos insubordinados

a audácia da incompreensão
negação ética do rebanho entediado e imóvel        os críticos irão ignorar-nos
não temos método nem obra        que poderiam eles dizer esses asnos erodidos

merda para este mundo        para as autoridades burlescas        religiões canibalescas        justiças de débil erecção        governações veadescas         ritmos e anacronismos
             merda para tudo o que não é acaso


as palavras são palavras
e as coisas coisas
palavras-coisas não são coisas e coisas-palavras não são palavras
desmascarar o sentido das palavras é assassinar as coisas

as palavras têm um obscuro movimento próprio
                    as coisas movimentam-se
o que se movimenta por si sem causalidade nada diz para além do seu movimento

porque é que o silêncio não há-de ocupar o lugar da palavra
o vazio o do poema
o acaso da criação num espaço de profundidade infinita como o azul-klein

                    só o leitor pode alinhar o poema do antipoeta colando os fragmentos no espaço limitado da palma da sua mão
                                  mordendo-o
                                  retalhando-lhe a carne
                                  demolindo a essência do inverosímil
os fragmentos da realidade una e indivisível

as palavras estão aí        soltas        livres        associadas às omissões
pausas
           vazios
para serem enfarpeladas e alinhadas como soldados meticulosamente compostos na parada

o espaço-não-preenchido é o alimento da alma
                           a purificação do espírito
                           a aniquilação da razão
                           da metafísica decadente

não tem significado
                              não é poema nenhum
o leitor dá-lhe um significado
                              constrói um poema surdo
mas há o significado-do-sem-significado na loucura
                           ah a arte da loucura
do escritor audacioso com uma imaginação que o transponha e com coragem para enfrentar o exílio das águas narcotizadas
             a esquizofrenia do tempo a escoar-se da ampulheta fragmentada

mesmo nos instantes em que o coração parece querer apagar-se desenho as letras impacientes da orfandade insubmissa
a canção da vida corre lá fora nos canaviais estercados por espectros infectos        entra pelos terríficos portais dos sentidos em desesperança minados de insectos lacustrais

amanhã      ireis ver      um novo dia
                    as folhas estremecem
       desejo renovado       nova experimentação revelada
a monotonia das metas inacessíveis no neo-experimentalismo disbúlico
                    as astúcias desfolhadas com a saliva coagulam no canto dos lábios azulados


       os futuristas        os surrealistas        os experimentalistas
       os neo-experimentalistas
       neo-tudo
            
                    o nada da palavra que se perde no espaço vazio e branco
                           a negação do sentido ou a sua afirmação na tridimensionalidade do absurdo da colagem
                                  um eu que não é um eu real
                                        construído sem alicerces pela imaginação delirante        repetitiva ou novel        indescritível        incompreensível
o silêncio da exclusão transfigurado em realidade a mentira em verdade

diz-se o que não se quer
e o que se quer tem a leitura marcada nos costados das palavras envelhecidas        monotonia da literatura cordelesca do século
             o texto circular penetra o leitor que finge compreender o inatingível e ulula a intelecção do desconhecido e diz entender como quem finge saber e não sabe ou cria e não sabe o que cria e se cria
                    o criador sem consciência da sua criação
                    o observador sem a real percepção do inconsciente negativista do artista

destruição construção
                                  massacre das ideias obsoletas
            configuração da contingência
e assim ordenadamente como quem semeia e colhe sem que se aperceba do valor e espécie do pão


             desconstrução







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